Manaus – Cinco em cada dez crianças e adolescentes de até 14 anos vivem em situação de pobreza no Amazonas, segundo a Fundação Abrinq. Em relação àqueles em extrema pobreza, o número chega a 23,6%. São 890 mil jovens em miséria extrema e pobreza no Estado. Os dados são do levantamento da Fundação Abrinq, batizado de “Cenário da Infância e da Adolescência no Brasil”, divulgado nesta terça-feira (24).
Se as crianças e jovens são o futuro do Estado e do País, então o futuro não parece nada animador. Segundo a pesquisa, o Amazonas supera em 14 pontos percentuais a estatística de pobreza infantil brasileira de 40%. Entre as crianças em extrema pobreza, outros 13,5% dos brasileirinhos desta idade convivem com a miséria, já em meio aos pequenos do Estado, 23,6% tinham essa realidade em casa.
A pesquisa considera ‘pobre’ àqueles com rendimento mensal por pessoa do domicílio de até meio salário mínimo; pelo menos 624 mil amazonenses de até 14 anos, ou 54%, sobrevivem com essa renda no Estado, segundo o estudo. Já os ‘extremamente pobres’, quase 270 mil no Estado, recebem até R$ 197, por pessoa, em casa conforme a Fundação. O salário considerado foi o de 2015, ano de referência do levantamento, quando o mínimo estipulado pelo governo federal era de R$ 788.
O resultado do documento que reúne mais de 20 indicadores sobre a infância do Estado é preocupante, na avaliação da coordenadora da Pastoral da Criança, da Arquidiocese de Manaus, Lúcia Soares. Atualmente, o braço da igreja católica apoia cerca de três mil crianças pobres da capital e vê a realidade de perto da retirada de direitos das crianças e adolescentes.
Para Soares, além de escreverem o futuro do Estado, os pequeninos precisam estar no centro das políticas públicas. “Qual a assistência que o Estado pode dar? Escola, creche de tempo integral não tem para todo mundo? Antes se fazia trabalhos escolares à tarde, hoje mudou”, disse ela. Com a crise econômica, a retirada de projetos sociais e de esportes também foi criticada. “Retiraram coisas boas, mas não pode”, opinou.
Faltam voluntários na Pastoral, segundo a coordenadora. Apesar da Constituição Brasileira assegurar direitos básico como educação, alimentação e proteção integral à criança e ao adolescente, propondo ainda o dever da família, da sociedade e do Estado, atuar contra a retirada desses direitos, a pobreza infantil passa invisível aos olhos da maioria.
“Infelizmente, muitos ganham pouco e poucos ganham muito. Não pensem que a fome não dói. A Pastoral da Criança acolhe três mil crianças porque infelizmente o trabalho só acontece com o voluntariado. Muita gente não arregaça as mangas. Somos poucos, mas fazemos a diferença”, orgulha-se.