Manaus – O comitê internacional do United World Colleges (UWC) Brasil, formado por ex-estudantes da organização, trabalha para levantar fundos para a construção da primeira unidade do movimento na América do Sul. E o local escolhido para ser a sede foi a Região Amazônica, com acesso rodoviário a Manaus.
De acordo com o presidente da associação UWC do Brasil, o continente da América do Sul é o único, além da Oceania, que ainda não tem uma unidade do UWC. Segundo ele, a escolha pela Amazônia não poderia ser mais propícia levando em conta que se encontra no “coração da floresta”.
O UWC é uma rede de colégios internacionais, sem fins lucrativos, com o objetivo de engajar e promover transformações sociais a partir de atitudes e projetos concretos. Fundado em 1962, o projeto já possui 18 colégios espalhados pelo mundo atuando com um programa de ensino com padrão internacional.
Plano de ensino da UWC
No Brasil, o UWC ganhou força na década de 1970, quando a unidade Canadá foi aberta e um padre canadense – Lionel Corbeil, fundador do Colégio Santa Cruz, em São Paulo -, foi convidado para visitar o lugar e, depois, mandar alguns de seus alunos para as escolas. Conforme os primeiros estudantes retornavam ao Brasil, formou-se o comitê nacional para levar cada vez mais brasileiros para estudar nos colégios da rede.
Segundo Theotonio Monteiro de Barros, ex-aluno da UWC, todas as escolas da rede seguem o currículo do International Baccalaureate (Bacharelado Internacional) que é uma organização independente do UWC. O programa equivale a um diploma internacional de segundo grau sendo um sistema próprio que representa nas escolas do UWC os dois últimos anos do Ensino Médio.
“É um diploma que pode ser adaptado aos interesses do aluno que faz as escolhas das matérias dentro de uma estrutura em que todos são chamados a estudar Matemática, pelo menos uma matéria de Ciência e Humanas, além de que todos precisam fazer uma língua sendo nativa ou estrangeira. Esses quatro campos são obrigatórios e o aluno ainda tem mais duas matérias que ele pode optar pensando no que ele vai escolher para o seu currículo. Faz parte do projeto educacional também as atividades extra curriculares de Criatividade, Atividade e Serviço”, explicou Theotonio.
Seleção de alunos para o UWC
Estudantes que ingressam no programa residencial dos colégios UWC moram no campus de cada colégio e convivem por dois anos. As aulas vão de agosto ou setembro a maio ou junho, na maioria dos colégios (localizados no hemisfério norte). No meio do ano letivo (dezembro/agosto), há um recesso de cerca de três semanas. Dado o custo elevado do retorno ao seu país de origem, é bastante comum que estudantes se encontram e/ou passem o Natal, Ano Novo e outras datas comemorativas com colegas do colégio.
Inês Kavamura, a primeira brasileira aluna do colégio de Essuatíni, como é hoje denominada a antiga Suazilândia, no sul da África, e hoje integrante do comitê nacional da UWC Brasil, conta que o currículo da rede de colégios é muito mais voltado a ensinar e a aprender do que a da informação. Segundo Kavamura, os resultados dos alunos vem muito através de experiências “mão na massa”.
“Além do currículo, a diferença fundamental da UWC para outras redes de colégios é da onde vem esses alunos que são selecionados pelos comitês internacionais do UWC que existem em 160 países e são formados por ex-alunos. Os alunos se inscrevem nos países de origem interessados a participar do projeto, os comitês dos ex-alunos entendem muito bem qual o perfil que a gente busca e a sede do UWC em Londres e em Berlim fazem a distribuição dos alunos nas 18 escolas. Buscamos alunos que tem uma robusteza acadêmica, que sejam bons representantes dos seus países e que tenham interesse em melhorar o mundo”, contou Inês.
Unidade do UWC na Região Amazônica
Batizado de UWC Amazônia Brasil, o colégio será construído em local ainda não divulgado pelo comitê nacional da UWC Brasil, mas integrado à floresta e comunidades locais, em área de preservação do bioma da região. “Estar na Amazônia é fornecer ao mundo uma rica troca de experiências culturais e, sobretudo, dar visibilidade ao lugar que é crucial para a sustentabilidade do planeta”, argumenta Theotonio Monteiro de Barros.
Ainda de acordo com Theotonio e Inês, a nova unidade da UWC não chega para ser um “estrangeiro” no Amazonas e sim para se integrar a região quebrando os estereótipos da visão de turista que as pessoas de outras partes do mundo têm. A ideia do comitê nacional é trazer estudantes de diversas partes do mundo para uma experiência na Amazônia e oferecer oportunidades para os interessados da própria região.
Os alunos selecionados vão poder participar de atividades extra curriculares integradas com toda a fauna, a flora e a dimensão da floresta. A UWC Brasil também pretende fazer parcerias com projetos de Organizações não Governamentais (ONGs), de prefeituras locais e do governo, que já estão em exercício.
Além dos estudos, a nova unidade vai promover a geração de empregos na região a partir da contratação de pessoas para diversas áreas como a de construção, de serviços gerais, industrial, administrativo, entre outras. É da associação UWC do Brasil a responsabilidade de identificar investidores para o financiamento das obras de construção da nova unidade.
Nos últimos anos, aproximadamente 3 mil jovens brasileiros têm se inscrito para a seleção de novos alunos, dos 27 Estados, sendo contemplados cerca de dez alunos anualmente, em processo desenvolvido pelo próprio comitê nacional e com a possibilidade de auxílio financeiro aos selecionados, quando se verifica a necessidade após a sua seleção.