Ex-governador cassado José Melo recebia propina de dinheiro desviado da saúde

Melo foi preso no sítio dele, localizado no Ramal do Banco, em Rio Preto da Eva. Na casa dele, no Bairro Flores, a polícia realizou buscas e apreensões. 

Manaus – O ex-governador cassado José Melo foi preso pela Polícia Federal (PF), na manhã desta quinta-feira (21), por receber parte da propina de dinheiro público desviado da saúde, estimada pela Controladoria Geral da União (CGU) em R$ 5,6 milhões, através de seu irmão, o ex-secretário de administração, Evandro Melo. Segundo a PF, Melo deve cumprir prisão temporária de cinco dias em uma das unidades prisionais do Estado.

De acordo com as investigações, Evandro recebeu durante 18 meses a quantia de R$ 300 mil. “Essa é uma hipótese que encontra amparo na investigação já que o irmão do governador recebia uma quantia bastante vultosa por ser o secretário de administração e gestão e tinha uma ligação muito grande com o irmão (José Melo) a quem o nomeou como seu auxiliar direto dentro do governo”, explicou o delegado da Polícia Federal, Alexandre Teixeira.

(Foto: Sandro Pereira)

Ainda nesta quinta-feira, o ex-governador José Melo será encaminhado para fazer o exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML), na Avenida Noel Nutels, Bairro Cidade Nova II, zona norte. “Ele vai ser encaminhado ao Instituto Médico legal  (IML) para o exame de corpo delito e logo em seguida ele será entregue para o sistema prisional a quem caberá acautelar o investigado”, explicou o delegado, destacando ainda que a prisão pode ser prorrogada por mais cinco dias.

A reportagem do Portal D24AM entrou em contato com a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) que respondeu por telefone que “até o momento não recebeu qualquer solicitação ou pedido para receber o ex-governador em unidades prisionais do Estado”.

Ainda segundo o delegado da PF, Alexandre Teixeira, Mouhamad Moustafa declarou, durante os autos da operação ‘Custo Político’, que o Evandro Melo seria o responsável pela morte do militante do PDT Alexandre Cézar Ferreira, de 33 anos, assassinado em fevereiro do ano passado. A Polícia Civil do Amazonas (PC-AM) informou, por meio de nota, que foi instaurado um Inquérito Policial (IP) na DEHS para apurar a autoria do homícidio e as diligências em torno do caso foram concluídas pela especializada. O processo foi remetido ao poder Judiciário e está em segredo de Justiça na 1ª Vara do Tribunal do Júri.

Prisão

Melo foi preso no sítio dele, localizado no Ramal do Banco, em Rio Preto da Eva. Na casa dele, no Bairro Flores, a polícia realizou buscas e apreensões.

De acordo com a PF, duas empresas que tem como sócia a ex-primeira dama do Estado, Edilene Gonçalves Gomes de Oliveira, esposa do ex-governador cassado, José Melo, também foram alvos da operação por apresentarem movimentações financeiras atípicas.  Uma delas foi o centro de estética Beleza Rápida, localizado na Rua Rio Branco, conjunto Vieiralves, bairro Nossa Senhora das Graças.

“Ela será intimada para prestar esclarecimento nos próximos dias”, destacou Alexandre. Ainda conforme o delegado, alguns mandados de condução coercitiva não foram autorizados pela Justiça.

Segundo Alexandre, foram cumprimos 7 mandados de busca e apreensão, além de um mandado de busca e prisão contra o ex-governador. Foram apreendidos alguns veículos, relógios, R$90 mil em espécie na casa dele e R$300 mil em outra residência dele.

Investigação

O ex- governador é investigado pelos crimes de corrupção passiva e ativa, lavagem de dinheiro e organização criminosa, segundo informou a PF. Melo recebia pagamentos periódicos de propina, dos membros da organização criminosa que desviou cerca de R$ 110 milhões da saúde do Estado. A operação foi batizada pela PF como ‘Estado de Emergência’ e possibilitou a prisão temporária do ex-governador, após o desdobramento da operação ‘Custo Político’.

“A investigação conseguiu fortes indícios de que o governador recebia essas vantagens indevidas, por isso a prisão temporária dele nesta data”, destacou Alexandre.

O mandado de prisão temporária, cumprido pela Polícia Federal, foi determinado pela Justiça Federal no Amazonas, após parecer favorável do MPF, em razão dos indícios de que José Melo recebeu recursos em espécie de Mouhamad Moustafa, médico e empresário preso em 2016 pela Operação Maus Caminhos.

Conforme Relatório de Inteligência Financeira do Ministério da Fazenda, a movimentação financeira do ex-governador foi considerada incompatível com a renda dele, tendo sido detectados indícios de ilicitudes, como realização de saques e depósitos em valor atípico em relação à atividade econômica ou capacidade financeira de José Melo, realização de saques em espécie em contas receptoras de transferências eletrônicas de várias origens em curto espaço de tempo, além de movimentação reiterada de recursos de alto valor em benefício de terceiros.

Patrimônio

Análises realizadas pela Controladoria Geral da União (CGU) indicam que houve um aumento do patrimônio do ex-governador considerado incompatível com a renda dele, tendo em vista que o salário mensal de Governador do Estado era estimado à época no valor de R$ 30 mil. Nota técnica da CGU aponta indícios de enriquecimento de José Melo, especialmente em virtude da aquisição de um imóvel de alto valor, avaliado em cerca de R$ 7 milhões, além de reformas vultuosas em sítio também de sua propriedade.

De acordo com o representante da CGU, Israel Carvalho, o ramal onde esta situado o sítio do ex-governador, em Rio Preto da Eva, foi asfaltado exclusivamente até o imóvel dele com dinheiro público. A quantia destinada para o serviço é estimada em R$ 8 milhões. O ramal é o único da região asfaltado.

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O sítio do ex-governador cassado José Melo, no Rio Preto da Eva (Foto: Reinaldo Okita/Acervo-Diário do Amazonas)

 

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Vista de cima, por meio do Google Earth, do sítio do ex-governador cassado José Melo (Foto: Reprodução)

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