Manaus – “Desarmar o cidadão não é a solução”. As palavras são do atirador, empresário e militar da reserva Ataíde Duarte Flor, 83, dono da loja de armas Tiro Certo, localizada na Rua dos Andradas, Centro, zona sul da capital. Em entrevista à REDE DIÁRIO DE COMUNICAÇÃO (RDC), o militar e moradores de Manaus divergiram quanto ao novo decreto do presidente da República, Jair Bolsonaro, que regulamenta o registro, a posse e comercialização de armas de fogo e munição no País.
- O atirador, empresário e militar da reserva Ataíde Duarte Flor, de 83 anos. (Foto: Jimmy Geber/RDC)
- Segundo o empresário, as armas mais vendidas na loja dele são: PT 938, HC Plus, TH 380 e PT 59. (Foto: Jimmy Geber/RDC)
- Uma das principais fontes de renda do estabelecimento, atualmente, são as armas de uso restrito, voltadas para policiais e atiradores. (Foto: Jimmy Geber/RDC)
De acordo com Duarte, as armas mais procuradas na loja são espingardas e pistolas, cujos modelos mais vendidos são: PT 938, HC Plus, TH 380 e PT 59. Já os preços variam entre R$ 5.280 a R$ 7.500. Após o decreto, o empresário espera que as pistolas cheguem ao topo das vendas, em especial a de calibre 380. Uma das principais fontes de renda do estabelecimento, atualmente, são as armas de uso restrito, voltadas para policiais e atiradores.
Com a oficialização do decreto de posse de armas, Duarte espera um aumento nas vendas da loja, apontando a violência na capital e no interior do Amazonas como um dos principais motivos para o acréscimo. “As pessoas estão muito entusiasmadas e muito necessitadas de adquirir uma arma, porque muita gente não aguenta mais essa demanda de bandidos atacando, que violentam em qualquer lugar”, ponderou. Segundo ele, a posse de arma deixará a população mais segura, inibindo as ações dos criminosos, especialmente em regiões remotas do interior do Estado, onde a segurança é mais escassa e o contato com animais selvagens é mais comum. “Como você espera que o ribeirinho, que mora lá num sítio, enfrente uma onça que apareça na casa dele?”, questionou. O empresário pontuou, também, que planeja estudar os pormenores do decreto para planejar quais modelos de armas merecerão um investimento maior para os próximos meses.
Mais de trinta anos de estrada
Ataíde Duarte teve a ideia de fundar a Tiro Certo quando trabalhava com manutenção de armas de fogo, nas Forças Armadas. “Nos anos 80, muita gente sugeriu que eu montasse uma oficina de manutenção de armas. Foi quando eu tive a ideia de fundar a loja, por incentivo dos meus colegas atiradores”, contou. Em 1985, a Tiro Certo abriu as portas.
O empresário e militar explicou que nos primeiros anos do estabelecimento era mais fácil vender os armamentos. “Hoje, as leis estão muito rígidas, o que nos faz ‘correr’ muito para vender uma arma, por causa das normas que são criadas em cima das leis e que dificultam o processo”, explicou. Duarte comentou, também, que em um dos casos mais lentos de compra de armas que ele já presenciou, o cliente demorou um ano para conseguir adquirir o produto. “Atualmente, o cliente tira uma arma com três ou quatro meses, em média. Alguns, que sentem essa burocracia tão grande, chegam a desistir”, afirmou.
Opiniões das ruas
Para o mototaxista Ariomar Apolinário Barreto, 48, o Brasil não está culturalmente preparado para o decreto. “A posse de armas bem sucedida vem de um país que já tem uma cultura pronta pra isso. O Brasil já tem muita violência. Mesmo que o decreto proíba o porte na rua, com certeza vão aparecer pessoas portando armas no trânsito”, disse. Quando questionado se tem o interesse de comprar uma arma, Barreto respondeu que não pretende pôr o dedo no gatilho.
Já para a comerciante Joelma de Melo Souza, 45, a população só estará totalmente segura se os cidadãos que comprarem armas de fogo estiverem bem treinados para usá-las. “As pessoas têm que estar preparadas para saber utilizá-las, senão vão fazer besteira”, comentou. Por outro lado, ela também acha que a posse de armas diminuirá a ação dos criminosos, que pensarão duas vezes antes de invadir uma casa.
O novo decreto aumentará os índices de violência na opinião da estudante de Jornalismo Camila Rafaela Duarte de Oliveira, de 20 anos. “O ser humano é imprevisível, não se pode prever o que uma pessoa, digamos, transtornada, pode fazer com uma arma na mão” disse. Mesmo sendo contra a posse de armas, a estudante afirmou que, caso tivesse a oportunidade, teria interesse em obter uma para si.