No aniversário de Manaus, capital ganha abandono de cartão postal

Depredada, a Praça da Matriz nada lembra o paisagismo da obra entregue em 2017, que custou cerca de R$ 6,5 milhões

Manaus – Cartão postal de Manaus e um dos monumentos mais antigos da capital, a Praça da Matriz, que integra a Praça 15 de Novembro, onde está erguida a Catedral de Manaus, está abandonada, depredada, entregue ao lixo à sujeira e à insegurança, apenas 6 anos após ter sido restaurada, após dois anos de obras. Nada lembra o paisagismo da obra entregue em 2017, que custou cerca de R$ 6,5 milhões e recuperou os detalhes de uma das mais importantes referências arquitetônicas e urbanísticas da cidade.

Na primeira foto, logo após a reforma em 2017 e ao lado, como se encontra atualmente a Praça. (Fotos: GDC)

Nas frondosas escadarias que adornam a praça até a Igreja Nossa Senhora da Conceição, a padroeira do Amazonas para os católicos, o passado se revela no desgaste natural das pedras portuguesas de liós, mas é o presente que incomoda. Nos degraus sinuosos há lixo, detritos e papelões que servem como ‘camas’ para os moradores de rua, que ali fazem as suas necessidades, o que deixa o ambiente fétido e sem nenhum apelo turístico.

blank

(Foto: GDC)

Os bancos restaurados estão se deteriorando, assim como o calçamento e a iluminação que foi implantada na área. Já os espaços elevados e cercados nas laterais da igreja, que serviam para apreciar a beleza da praça, também viraram abrigo improvisado de moradores sem acesso à assistência e aos programas sociais.

blank

(Foto: GDC)

Banheiro improvisado
O chafariz da área frontal, denominada de Praça Oswaldo Cruz, em frente da entrada do Porto de Manaus, não funciona. As bacias laterais que circundam a peça para receber água agora servem de depósito de papelão e outros detritos, além de roupas molhadas espalhadas pelo berço central como um varal improvisado.

A água no local é obtida dos canos da praça, que servem para encher os baldes e se tornam banheiro improvisado a céu aberto, além de serem utilizados para lavar os carros nas proximidades.

Sem Guarda Municipal
A falta de segurança é outro problema. Ao contrário das praças do Paço Municipal, São Sebastião e da Saudade, também no Centro, a da Matriz não conta com a presença de homens da Guarda Municipal. A reportagem apurou que o elevado custo tornou inviável a manutenção de uma guarda particular pela Arquidiciocese. Uma consulta informal sobre a questão apurou que há pedidos feito para a Prefeitura Municipal, para um efetivo no local, mas nada de concreto foi feito até agora.

blank

(Foto: GDC)

Obra
A obra de cerca de R$ 6,5 milhões com recursos do governo federal, por meio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), pelo então Programa PAC Cidades Históricas, foi tocada pela Prefeitura Municipal, com a supervisão do órgão federal.

blank

Imagem aérea da Praça durante a obra em 2017. (Foto: Alex Pazuello)

De acordo com o Iphan, a restauração de 2017 foi voltada para reproduzir o modelo original da praça, com a implantação de novo paisagismo e mobiliário urbano, além de serviços como iluminação e calçamento, o que incluiu a até o Relógio Municipal.

História
A Igreja Matriz se debruça imponente sobre o Porto de Manaus, até então a única ligação da cidade com o mundo. É um dos monumentos mais antigos, que começou em 1695, ainda no período colonial, quando, logo após a implantação do Forte da Barra, a Capela Nossa Senhora da Conceição começou a ser construída por missionários carmelitas e chegou a ser destruída por um incêndio dois séculos depois.

A importância da obra é destacada pelo professor e doutor em História, Otoni Mesquita. “Se formos analisar, a igreja era a única grande obra da cidade, tudo estava ao seu redor”, detalha. O Teatro Amazonas, por exemplo, só foi entregue no começo do século 20, assim como o Palácio da Justiça. A obra é ainda mais antiga do que o Paço Municipal, a antiga sede prefeitura, erguida no período da república.

De acordo com Mesquita, as principais transformações na Praça da Matriz, principalmente quanto ao aspecto urbanístico e cultural, ocorreram no governo de Eduardo Ribeiro, no período da República, no final do século 19. O aterro do igarapé do Espírito Santo seguia por onde hoje está a avenida que dá nome ao antigo governador e margeava uma das laterais da praça, quando então a obra de “embelezamento” urbanístico do logradouro foi concluída.

Anúncio