Manaus – As pessoas que possuem poços artesianos tubulares para fornecimento de água domiciliar podem estar bebendo água contaminada em Manaus. Conforme o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), o desconhecimento da qualidade da construção dos poços pode resultar em problemas de saúde relacionados à potabilidade da água, além da interferência de poços na vizinhança. Pela Constituição Federal, a água no subsolo é patrimônio da União e só pode ser explorada por meio de permissão ou concessão.

(Foto: Sandro Pereira / arquivo GDC)
Um estudo divulgado pelo Instituto Trata Brasil observou que a maioria dos mais de 2,5 milhões de poços artesianos no Brasil é construída longe da profundidade adequada estabelecida para que seja extraída água com qualidade. Quase 90% dos poços artesianos no País são clandestinos, informa o estudo.
No banco de dados do Ipaam estão cadastrados cerca de 2.548 poços em Manaus. Somente em 2022, foram solicitados licenciamentos de 82 poços tubulares.
(Foto: Luzimar Bessa)
Conforme o Instituto, poços rasos devem ser evitados até 50 metros, em função da qualidade das águas subterrâneas dessa profundidade, sendo necessária a construção de uma proteção sanitária de concreto que tenha entre 20 e 40 metros, para barrar a entrada de águas contaminadas por fossas e lançamento irregular de esgoto e lixo no solo, ou até mesmo fezes de animais domésticos. As águas dos poços acima dessa profundidade não são recomendadas para consumo humano.
De acordo com a gerente de riscos não biológicos da Fundação de Vigilância em Saúde Dra. Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP), Geani Souza, pode ser perigoso se essa água não tiver qualidade, ou seja, se ela não for potável. E o fato de ser cristalina, não significa pureza ou própria para ser bebida.
“Uma água de poço artesiano, ela deve passar pelo processo de desinfecção, ou seja, a cloração. A legislação diz que toda água obtida de uma solução alternativa coletiva, ela deve passar pelo menos pelo processo de desinfecção. Uma água de poço é uma água com praticamente ausência de turbidez. Então, você olha e vê que a água está cristalina, mas é perigoso tomar uma água sem saber se realmente ela é potável e própria para o consumo humano, informou Geani.
(Foto: Luzimar Bessa)
Uma água aparentemente limpa não significa que ela esteja isenta de patógenos que podem causar doenças. É necessária que seja feita uma análise da qualidade dessa água para indicar que ela é uma água potável própria para consumo ou podem provocar doenças.
“As doenças mais comuns são aquelas por contaminação microbiológica, que são as diarréias e doenças gastrointestinais, mas podem, dependendo de uma contaminação química, também trazer prejuízo à saúde, mas para isso exige uma análise mais detalhada de vários parâmetros para poder se falar com certeza”, disse a gerente de riscos da FVS-RCP.
Tratamento da água
A Águas de Manaus, concessionária de água que atende a capital, recomenda que a população sempre se conecte às redes de água, que oferece água de qualidade e pronta para o consumo.
De acordo com concessionária, o consumo médio de água de uma família na capital é de aproximadamente 15 metros cúbicos, o equivalente à utilização de 30 caixas d’água de 500 litros, durante o mês, ou uma 15 caixas de mil litros.
Para atender a cidade, atualmente, mais de 630 milhões de litros de água são retirados todos os dias do Rio Negro. A partir daí, essa água passa por um minucioso processo de tratamento antes de seguir para o consumo. Essa água também passa por um rígido controle de qualidade, com aproximadamente 30 mil análises laboratoriais por mês, em pontos que vão desde a captação até a chegada ao consumidor.
(Foto: Divulgação / Águas de Manaus)
Poços artesianos, perfurados pela concessionária também complementam a rede de distribuição de água, mas diferente dos poços particulares, além de atingir águas subterrâneas, também passam por um processo de tratamento.
“Os poços tubulares profundos utilizados pela concessionária são completamente diferentes dos poços particulares ou comunitários. As estruturas utilizadas pela concessionária são os Centros de Produção de Águas Subterrâneos (CPAs), tendo avançado no processo de engenharia que garante a qualidade da água para abastecimento. A água captada também passa por processo de tratamento. Esse rígido processo de controle de qualidade garante que a água esteja pronta para o consumo”, informou a concessionária.
Às pessoas que ainda não possuem acesso à água tratada, o recomendável é que realizem o tratamento domiciliar para evitar riscos à saúde.
“A água ideal é aquela que passou pelo processo de tratamento, uma água potável, conforme indica a legislação. Mas, a gente sabe que tem famílias que não têm acesso a água de qualidade. Então, nesses casos a gente recomenda, dependendo da fonte da água, que seja feito um processo de filtração e tratamento e desinfecção com hipoclorito de sódio, uma forma de tratamento doméstico para minimizar os riscos de acometimentos de doenças na população”, recomendou a gerente de riscos da FVS-RCP.
Autorização e Regularização
Conforme as legislações Estadual e Municipal, para se obter fontes alternativas de água em Manaus é necessário realizar o licenciamento ambiental, comprovação da potabilidade da água, além da ausência de rede de abastecimento na região. Caso não seja cumprido pelo menos um dos requisitos exigidos, o poço deve ser considerado irregular pelo órgão fiscalizador.
Apresentação de documentação e estudos relacionados ao poço tubular, conforme requisitos que podem ser consultados no site do Ipaam para obtenção de Licença Ambiental Única para perfuração e, posteriormente, a solicitação do pedido de outorga de uso de recurso hídrico.