VÍDEO: pintura de pedras da Ponta Negra para ciclovia causa revolta contra Prefeitura

Nas imagens gravadas por um engenheiro, ele relata a indignação contra a Prefeitura de Manaus que está pintando de vermelho a calçada de pedras para ciclovia. Entidade também repudiou ação

Manaus – Um vídeo compartilhado na rede social Instagram ganhou repercussão na web, neste fim de semana. Nas imagens gravadas por um engenheiro, ele relata a indignação pela Prefeitura de Manaus está pintando de vermelho a calçada de pedras para servir de ciclovia, no Complexo da Ponta Negra, zona oeste. Com a repercussão, o Conselho Regional de Arquitetura e Urbanismo do Amazonas (CAU) divulgou nota de repúdio. A obra de R$ 4 milhões tem 3,6 Km de extensão.

(Foto: Montagem D24am / Divulgação Semcom / Instagram @arq.jeanfaria)

De acordo com o engenheiro Jean Faria, é um “absurdo” o que a gestão de David Almeida está fazendo.

“É envergonhado o que eu vejo que está acontecendo em nossa cidade, hoje. É inconcebível você pensar que a pedra portuguesa da Ponta Negra, um trabalho pensando por um arquiteto dentro da própria Prefeitura de Manaus, no passado, um trabalho com cuidado de paginação, uma pedra extremamente delicada, acontece isso. As pessoas simplesmente esquecem o que é arquitetura e urbanismo fazendo um absurdo disso, pintando a pedra portuguesa da ponta negra de vermelho para fazer uma ciclovia, é inacreditável”, diz o engenheiro.

Na reforma do calçadão da Ponta Negra, as chamadas pedras portuguesas antes importadas, na verdade são originárias do interior do Minas Gerais (MG) e foram assentadas uma a uma, técnica utilizada para esse tipo de piso, o que demanda muito tempo e mão de obra especializada.

(Foto: Divulgação Semcom)

Com um traçado sinuoso, que lembra o Encontro das Águas dos rios Negro e Solimões, o calçadão tem desenhos em pedras, semelhante aos que foram usados pelo paisagista e arquiteto Burle Max em obras pelo Brasil, como no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro. Também no Rio, essas pedras com o mesmo desenho se encontram nos calçadões das praias de Copacabana, Ipanema e do Lebon, usando o padrão de ondas da Praça Pedro 4ª, mais conhecida como Praça do Rossio, no centro de Lisboa, em Portugal.

Praça D. Pedro 4ª mais conhecida como Praça do Rossio centro de Lisboa (Foto: Reprodução)

Na Ponta Negra, os desenhos são geométricos e em ondas sinuosas, conferindo ao espaço um piso antiderrapante, que tem mais absorção de águas pluviais e retém menos calor.

As pedras originalmente importadas de Portugal foram primeiro assentadas na Praça São Sebastião, em frente ao Teatro Amazonas. Esse traçado das pedras estão ao redor do monumento que celebra a abertura dos portos do Brasil às nações amigas, com as naus em bronze junto a estátua principal.

A técnica de desenhar pavimento com pedras foi consolidada em Portugal no século 16. Posteriormente os mosaicos ganharam cores em contraste e desenhos mais exuberantes. A partir do século 19 a herança lusitana se estendeu para outras cidades brasileiras como Manaus, Belém, Salvador, Curitiba, Florianópolis, Belo Horizonte, Recife, São Paulo, Rio de Janeiro, entre outras.

Em Nota de Repúdio, a CAU-AM, pede esclarecimentos da Prefeitura de Manaus sobre a intervenção inadequada e desrespeitosa com o patrimônio histórico-cultural da cidade.

Prefeitura admite que errou

Em nota emitida pela Prefeitura de Manaus, por meio da Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seminf), a pasta esclarece que o projeto de construção de 3,6 quilômetros da ciclovia em trecho da avenida Coronel Teixeira, zona Oeste, segue os parâmetros definidos, mas que vai readequar o projeto removendo a pintura e implantando novas pedras portuguesas na cor vermelha.

Nota na íntegra:

A Prefeitura de Manaus, por meio da Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seminf), esclarece, neste domingo, 22/10, que o projeto de construção de 3,6 quilômetros da ciclovia em trecho da avenida Coronel Teixeira, zona Oeste, segue os parâmetros definidos de forma prévia em conjunto com o Ministério Público do Estado do Amazonas (MPE-AM).

O corpo técnico da Seminf acompanha a execução da obra desde seu início, para garantir a viabilidade do projeto e a conclusão dentro do prazo estimado.

Mediante debate público acerca da pintura das pedras portuguesas, em etapa final da obra, a pasta considera relevante os pontos levantados pela sociedade civil e organizada e defere uma readequação do projeto inicial.

A prefeitura fará a remoção e limpeza de toda a extensão de pedras que recebeu a pintura e, para dar continuidade ao projeto, irá implantar novas pedras portuguesas na cor vermelha opaca.

A prefeitura reforça o compromisso com a opinião pública e a soberania do povo.