O governador Wilson Lima não foi depor na CPI da Covid-19 porque, segundo ele, tinha que cuidar das ações de “segurança” pública em Manaus, após a onda de ataques de uma organização criminosa ocorrida em retaliação à morte de um traficante. Uma grande e, todos sabem, que descabida mentira. Ele não fez nada para enfrentar a ofensiva dos bandidos sobre órgãos públicos, ônibus e sobre toda população, repito: nada!
Agiu do mesmo modo com a pandemia, abrindo e fechando as atividades comerciais sem nenhum critério, comprando ventiladores pulmonares (e nem adequados eram) a preços superfaturados em uma casa de vinhos e asfixiando a vida de milhares de amazonenses. O Amazonas não tem governo e o povo paga um preço alto por ter um fantoche como governador.
Sou reverente ao Supremo Tribunal Federal (STF) e respeito a ministra Rosa Weber. Vergonhoso é o papel do governador Wilson Lima, que se cala por saber os crimes que praticou. Se a desculpa era a onda de criminalidade, agora, que a situação está controlada pela presença da Força Nacional na cidade de Manaus, o governador deve se apresentar à CPI e o senador Omar, que sempre o apoiou, deve o interrogar. Uma pessoa altiva, apesar de amparada por decisão judicial, nunca se calaria diante de graves acusações. Confesso que em 20 anos de parlamento, como senador e deputado federal, nunca vi postura tão covarde.
Não acho que uma Comissão Parlamentar de Inquérito deva ser uma caça às bruxas, por outro lado, ela deve ser fiel ao seu objetivo e ao compromisso com a população, que anseia por respostas e soluções. Uma pessoa pública que foge de perguntas de parlamentares é indigna. Ele pode escolher entre a desonra de se calar e a de não comparecer à CPI. Sua escolha o desmoraliza ainda mais. É um atestado de culpa.
O certo seria a presidência da CPI da Covid-19 fazer nova convocação ao governador do Amazonas, uma vez que clima é de normalidade quanto à segurança pública em Manaus e em todo o Estado. Seria uma segunda chance para o governador Wilson Lima demonstrar o mínimo de hombridade. Uma coisa é certa, de um modo ou de outro, ele terá de responder pelas mortes dos que não podiam respirar, não recebiam analgésicos e ainda eram amarrados aos leitos até o suspiro final. Ele e os que são cúmplices de seus crimes no governo, ou fora dele, terão de responder pela desumanidade em que chafurdam.
*Diplomata, foi deputado federal, senador, líder por duas vezes do governo Fernando Henrique Cardoso, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, líder das oposições no Senado ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e três vezes prefeito da capital da Amazônia – Manaus