Cartas ao desconforto: quando o diálogo resiste ao grito

Este novo texto é um gesto de gratidão e abertura: às concordâncias sinceras, às discordâncias que desafiam

Epígrafes:

“Com as pedras que me lançam, prefiro criar pontes — e formar laços a partir da humanidade que é comum a todos…”

Jorge Pinho

“Quando a alma se abre ao diálogo, até a discordância se torna um ato de esperança.”

Jorge Pinho

  1. Introdução: A potência do pensamento escrito

Quando publiquei meu artigo sobre a situação entre Israel e Palestina, sabia que tocaria feridas abertas. Mas o objetivo nunca foi inflamar. Foi, antes, convidar. Convidar ao pensamento, à escuta, à reflexão sem trincheiras.

O que recebi, em retorno, foi um mosaico humano: silêncios que disseram muito, elogios generosos, e também duras críticas. Cada uma dessas respostas, mesmo as mais agressivas, foi lida com respeito. Porque quem escreve para pensar deve estar disposto a ser pensado também.

Este novo texto é um gesto de gratidão e abertura: às concordâncias sinceras, às discordâncias que desafiam e, sobretudo, à possibilidade de que o debate não seja um campo de batalha, mas um espaço de construção.

  1. Ecos do Silêncio e do Aplauso

“Foi como um sétimo dia: repouso para o pensamento.”

“Nunca imaginei ver a Cabala, o Holocausto e o Tikun Olam explicados com tanta clareza.”

“Obrigado por colocar luz onde a escuridão quer fazer ninho.”

Essas foram algumas das mensagens que recebi. Não cito nomes, pois o que importa não é o autor da frase, mas o eco que ela provoca. Percebi, com alegria, que muitas pessoas querem pensar. Querem sair das bolhas. Querem compreender sem se alinhar cegamente a lados.

Recebi também palavras de imensa generosidade de leitores judeus, que se sentiram honrados por verem sua tradição representada com respeito, profundidade e beleza.

Uma delas, com quem compartilho amizade e admiração mútua, escreveu:

“Tremendo trabalho de transmissão de conhecimento, que nos honra, judeus. […] Caramba, que bonito! […] Texto espetacular! Sensacional. Vou repassar.”

Mas o que mais me tocou foi a crítica elegante que uma mensagem fez:

Disse que a ligação entre a filosofia judaica e a brinquedoteca criada pela família Bibas poderia ter vindo antes, de forma mais clara e direta, para que a ação concreta ficasse imediatamente conectada à reflexão espiritual.

E ela estava certa.

São pessoas assim que me ensinam que a filosofia se aperfeiçoa não quando cala críticas, mas quando as acolhe.

A essas almas abertas pró e contra o meu pensamento, meu mais respeitoso e profundo apreço.

  1. Quando o Confronto é Convite: Dois Diálogos Essenciais

A seguir, apresento duas trocas de mensagens que simbolizam a intensidade e a riqueza do debate despertado: diálogos com dois interlocutores pró-Palestina — aqui preservados sob os nomes genéricos de Interlocutor 1 e Interlocutor 2.

Esses diálogos, apresentados de forma integral, foram respondidos com firmeza, respeito e abertura filosófica. São eles o coração deste artigo.

3.1. Diálogo com Interlocutor Pró-Palestina 1

Interlocutor 1: Gosto de você, meu amigo. Mas esse artigo tentando justificar o genocídio na Palestina é injusto. Você fala da família Bibas e ignora as milhares de famílias árabes que os judeus exterminaram ao longo desses quase 80 anos de expulsão e extermínio do povo nativo da Palestina.

Interlocutor 1: Levante sua voz pela JUSTIÇA e não em defesa do GENOCÍDIO.

Interlocutor 1: Só na Faixa de Gaza já são quase 1 mil famílias árabes EXTERMINADAS por completo. Isso não é VINGANÇA? Não é EXTERMÍNIO? Os judeus fazem com os palestinos tão pior quanto os nazistas fizeram com ele. Ao invés de denunciar essa barbárie, faz texto tentando justificar? Bola fora.

Interlocutor 1: Veja o vídeo. O que justifica essa matança? Estou falando só da Palestina. Fora os crimes que os judeus fizeram no Líbano, onde no ano passado mataram quase 4 mil libaneses em dois meses, incluindo muitas crianças e mulheres, entre eles brasileiros.

Foram incontáveis retransmissões de mensagens e de vídeos que me permito não repetir aqui porque o objetivo não é acirrar a questão, mas promover um diálogo respeitoso e honesto.

Ao perceber o calor emocional de meu amigo e Interlocutor 1 Pró-Palestina, de todo compreensível diante da gravidade da questão no oriente médio, primeiro eu me dispus a pensar sobre suas ponderações e enviei o seguinte texto resposta:

“Interlocutor 1,

A essa altura, vejo que não estamos diante de uma simples divergência. Estamos diante de duas visões que a loucura do sectarismo contemporâneo vem tentando tornar inconciliáveis: uma que busca compreender a complexidade histórica com responsabilidade moral, e outra que reduz tudo a uma narrativa ideológica que, embora embriagada de indignação, se alimenta do mesmo ódio que diz combater.

Você me envia vídeos com declarações de indivíduos isolados, como Avi Lipkin, que em nada representam o governo de Israel, a maioria do povo judeu ou o pensamento sionista legítimo.

O mesmo poderia ser feito com dezenas de líderes muçulmanos, pregadores xiitas e militantes que declaram abertamente querer “aniquilar os judeus” e “libertar

Jerusalém com sangue”.

Seria desonesto — e profundamente perigoso — tomar essas vozes como representativas de todos os árabes ou de todos os muçulmanos.

Isso se chama generalização abusiva. É uma falácia.

A mesma falácia que serviu de base para o antissemitismo europeu, para o apartheid racial e para os regimes totalitários do século XX.

O fato de existirem judeus extremistas — o que é real e condenável — não justifica o ódio sistemático ao Estado de Israel, nem transforma Israel em uma entidade genocida ou colonialista.

Israel é um Estado democrático, com árabes eleitos no Parlamento, com liberdade religiosa, imprensa livre e um sistema judicial que julga até seus primeiros-ministros.

Os vídeos que você me envia ignoram mais de 70 anos de ataques sucessivos contra Israel, promovidos por vizinhos que nunca aceitaram sua existência — mesmo após tentativas de paz e concessões territoriais.

Você afirma que luta contra “terroristas judeus”.

Mas quem sequestrou, estuprou, queimou civis vivos, lançou foguetes contra creches e usou hospitais como escudo humano?

Foram terroristas do Hamas, do Hezbollah, da Jihad Islâmica — que você convenientemente omite ou trata como “resistência legítima a judeus genocidas”.

Isso, é inversão moral.

É transformar o agredido em agressor. É negar a um povo o direito elementar à autodefesa.

E é exatamente isso que a mídia esquerdista, capturada por um marxismo cultural decadente, vem fazendo há décadas: instrumentalizar o sofrimento, ignorar as nuances, promover o conflito permanente e dividir o mundo entre opressores e oprimidos — independentemente da verdade.

Esse pensamento não busca justiça.

Busca poder.

Destrói a linguagem, sabota o pensamento e inviabiliza qualquer possibilidade de convivência.

Eu sigo honrando a dor das famílias palestinas inocentes e sinceramente oro pela pacificação daquela região que tanto contribuiu para humanidade.

Mas afirmo, com toda a clareza: a dor não dá a ninguém o direito de cultuar o ódio.

Todo ser humano tem o direito de sentir raiva — mas isso não lhe dá o direito de ser cruel.

Você pode ser contra o governo de Israel, contra assentamentos, contra políticas específicas — e isso é legítimo.

Mas justificar o terrorismo, chamar de “verme” quem pensa diferente, e espalhar discurso de extermínio como se fosse “defesa” — isso não é justiça. Isso é incitamento ao ódio.

O que proponho, e sempre propus, é  transformar o luto em reconstrução.

É escolher, como fez a família Bibas, abrir um canal de luz em meio à escuridão.

Isso não nega a dor alheia — honra o sofrimento com um gesto de dignidade.

Se você não vê isso, talvez o abismo já esteja muito próximo.

Com firmeza, mas ainda com respeito,

Jorge Pinho

Um adendo: convite ao debate

Interlocutor 1,

Diante da intensidade e da veemência com que você defende seus pontos de vista, quero lhe fazer uma proposta clara, honesta e respeitosa:

Escreva um artigo. Vamos discutir isso sob a luz da lógica, da razão e da responsabilidade ética.

Exponha seus argumentos, dados, leituras da história e da geopolítica.

Traga sua visão sobre Israel, o Líbano, a Palestina, o sionismo, os assentamentos — tudo o que julgar importante.

Eu me comprometo, publicamente, a publicar seu texto integralmente, desde que respeite as regras mínimas da civilidade:

sem ataques pessoais, sem termos ofensivos a qualquer ser humano — seja ele judeu, palestino, cristão ou muçulmano.

E, após a publicação, farei uma resposta rigorosa, respeitosa e pública, ponto a ponto, com base em fatos, história eprincípios morais.

Não para “vencer” — mas para pensar diante do público.

Esse é o espírito do verdadeiro debate: não atacar pessoas, mas confrontar ideias, examinar posturas, questionar narrativas.

Se você acredita realmente no que diz, e se está comprometido com a verdade mais do que com a propaganda, aceite o convite.

Se preferir seguir no campo das mensagens rápidas e indignadas, permaneceremos em esferas diferentes.

Mas eu sigo acreditando que o pensamento é sempre uma ponte possível — desde que o respeito venha antes da raiva.

Fico no aguardo da sua decisão,

Com firmeza e abertura,

Jorge Pinho”

Interlocutor 1: Uma pena você reduzir tudo a “sectarismo” ou “direita e esquerda”. Nem sou sectário e nem me apego a essas questões ideológicos. Já morei no Oriente Médio. E sou testestunhas dos crimes de Israel. Meu primo de 10 anos foi assassinado por eles no ano passado junto com a família dele. Vão dizer o que? Que ele estava “lançando foguete”.

Minha resposta:

“Interlocutor 1,

Sinto profundamente pela morte do seu primo e de sua família.

Nenhuma criança deveria morrer. Nenhuma vida inocente deveria ser interrompida pela violência, seja ela qual for.

Perder alguém que amamos não é argumento — é ferida

E toda ferida precisa ser ouvida com respeito, porque ela fala com a linguagem mais universal de todas: a do luto.

Mas permita-me compartilhar contigo também a minha dor.

Perdi meu pai.

Ele era padeiro. Trabalhador. Um homem simples e digno, que todos os dias acordava cedo para comprar pão e alimentar a casa.

Foi atropelado por um motoqueiro enquanto saía para mais um dia comum.

Eu o amava profundamente. Ele não apenas me deu a vida — ele me deu liberdade para ser o homem e o profissional que escolhi ser

Mas nem por isso passei a odiar os motoqueiros.

Ironia cruel do destino: meses depois, durante a pandemia, nossa família inteira passou a depender deles.

Homens em alta velocidade cruzavam a cidade vazia para trazer medicamentos e alimentos.

Se eu tivesse deixado a dor me cegar e, tendo poder, agido com crueldade… o que seria de nós naquele momento?

A mesma mão que hoje salva, poderia ter sido eliminada pelo ódio cego.

Você não percebe a ironia disso?

A tragédia pessoal não pode se converter em generalização destrutiva.

Minha dor não é maior que a sua. Mas tampouco me dá o direito de transformar uma categoria inteira em inimiga.

O que lhe proponho, mais uma vez, é não negar sua dor — mas impedi-la de parir ódio.

E, se você quiser transformar essa indignação legítima em um argumento, em uma reflexão racional, em uma proposta ética — eu estarei aqui, de pé, pronto para o debate.

Porque o que nos destrói não é a dor.

É o que decidimos fazer com ela.

Com humanidade,

Jorge Pinho

Interlocutor 1, tocado com o falecimento de meu pai: “Meus sentimentos pelo seu pai.”

Minha resposta:

“Caro Interlocutor 1,

Compartilhei contigo minha dor não para competir com a tua, mas para dizer que eu te entendo. A dor é real. A perda é irreparável. Mas é exatamente por isso que precisamos ser maiores do que ela.

E se é verdade que nossas experiências moldam nossos sentimentos, é também verdade que os argumentos, quando bem construídos, podem iluminar e até transformar nossas convicções.

Você é jornalista. E, como tal, sabe da importância de estruturar ideias com clareza, consistência e responsabilidade.

Por isso, deixo aqui um convite sincero: reúna todas as suas ideias sobre essa situação e escreva um artigo — ou uma dissertação profunda — com rigor filosófico.

Evite falácias, sofismas e generalizações. Fundamente suas premissas na lógica e na razão, e apresente seus argumentos de forma clara, honesta e justa.

Eu me disponho, publicamente, a enfrentar todos os pontos, um a um, que você  levantar.

E mais: se ao final da sua tese, suas razões se sustentarem logicamente, resistirem ao método socrático e forem aferíveis pela racionalidade — então, como Sócrates, eu passarei a defendê-las.

Simples assim.

Não tenho paixão por lados. Tenho compromisso com a verdade.

E nesta questão, os dois lados envolvem seres humanos — meus irmãos.

Aguardo sua reflexão.

Com respeito, abertura e humanidade,

Jorge Pinho”

Em seguida nova mensagem do Interlocutor 1:

Interlocutor 1: Concordo que não pode haver ódio. Mas em nenhum momento há pregação do ódio. Pelo contrário, lutamos pelo fim dos crimes que geram o ódio, que é a ocupação ilegal de terras e a expansão territorial. É isso que muitos não enxergam. Veem a luta legítima de um povo como “terrorismo” ou “ódio”, enquanto a ocupação, que é a origem de todo o conflito, é “justificada” ou vista como algo a “ser entendido”.

Minha resposta:

“Caro Interlocutor1,

Agradeço sinceramente a sua última resposta.

Fico muito contente em ver que, apesar das nossas divergências, conseguimos nos encontrar no ponto mais essencial: não pode haver ódio.

E quando você afirma que sua luta é pelo fim dos crimes que geram o ódio — e não pela perpetuação dele —, isso merece todo o meu respeito.

Esse tipo de clareza moral é raro, e precisa ser preservado em qualquer diálogo que deseje, de fato, gerar luz.

É justamente por isso que defendi — e sigo defendendo — que não devemos julgar a legitimidade de um povo, mas sim os métodos de seus representantes.

A ocupação é, sim, um tema complexo, doloroso e que precisa ser debatido com franqueza e profundidade.

Mas é necessário que esse debate não apague a complexidade do conflito nem justifique métodos que cruzam a fronteira da ética.

Dito isso, vou interromper nossa conversa por ora.

Não porque ela tenha perdido importância — pelo contrário.

Mas porque a vida faz chamados que também precisam ser atendidos com presença e serenidade.

E saiba, de coração, que assim que você quiser apresentar sua tese — estruturada, profunda, argumentativa — eu estarei aqui.

Para escutá-la com o melhor da razão e com o coração aberto.

Com firmeza, mas também com

humanidade.

Fraterno abraço,

Jorge Pinho”

Interlocutor 1 me convida para um debate sobre essa questão:

Interlocutor 1: Quando houver um debate sobre essa questão, vou propor seu nome para participar como debatedor.

Minha resposta:

“Caro Interlocutor 1,

Agradeço o convite para o debate oral, mas sinceramente prefiro o debate escrito — especialmente em temas delicados como este.

Não sei se você tem acompanhado meu artigos, mas sempre defendi que o debate escrito favorece a reflexão antes da resposta, reduz o calor das emoções e das paixões, e abre mais espaço para a razão, a escuta atenta e o rigor argumentativo.

O que me interessa não é “vencer” um debate, mas honrar a verdade que pode emergir dele.

E para isso, acredito que o texto nos oferece um campo mais fértil, mais sereno e mais justo.

Se for nesse formato, estou pronto a qualquer instante.

Com apreço e disposição para o bom diálogo,

Jorge Pinho”

Nova mensagem do Interlocutor 1: Mas a luta contra o ódio sempre foi assim. Ao longo da história, árabes sempre protegeram os judeus. Veja a história durante o domínio árabe na Península Ibérica (Portugal e Espanha). Nessa época, sob a proteção dos árabes, os judeus puderam construir uma era de ouro pra eles. Quem fez a Inquisição não foram os árabes e nem os muçulmanos. Pelo contrário, os muçulmanos turcos (império otomano) salvou muitos judeus da perseguição e os levou para as terras sob domínio muçulmano.

Minha resposta a esta mensagem:

“Interlocutor 1,

O que você disse sobre a proteção histórica que muitos árabes ofereceram aos judeus é absolutamente verdadeiro — e faço questão de reconhecer isso com gratidão e respeito.

Na própria história da Península Ibérica, sob o domínio árabe, houve uma era de ouro para os judeus.

Foi a Inquisição cristã — não os muçulmanos — que perseguiu e torturou aqueles que professavam a fé judaica.

E o Império Otomano, muçulmano, foi um dos refúgios mais seguros para os judeus expulsos da Europa.

Mas quero te dizer que essa convivência pacífica também aconteceu — e ainda acontece — aqui mesmo, no nosso chão amazônico.

As comunidades palestina e israelense mais antigas, vindas desde o século XIX, sempre tiveram uma convivência respeitosa e harmoniosa.

(…), um sírio-libanês, foi amamentado pela mãe de um judeu. Seus pais foram sócios de negócios. (…), judeu, casou com uma (…), de origem árabe.

E tantas outras famílias, de ambos os lados, construíram suas histórias juntas, sem ódio, sem sectarismo, com afeto e dignidade.

Mesmo em Israel, há árabes no parlamento. Há hospitais onde médicos judeus e árabes trabalham lado a lado.

A realidade é sempre mais complexa, mais rica, mais humana do que os discursos ideológicos permitem ver.

Por isso te digo: a questão não é entre judeus e árabes. Nunca foi.

A questão final, e infelizmente cada vez mais evidente, é ideológica.

É essa lógica binária e militante que reduz tudo a “opressores e oprimidos”, sem considerar a história, a convivência, os laços, a verdade.

É essa ideologização da dor que eu combato.

Porque ela impede a reconciliação, sabota a escuta e alimenta a guerra — até mesmo quando a paz é possível.

Você e eu sabemos que o Oriente Médio é muito mais do que o noticiário diz.

E que o Amazonas também é prova viva de que os povos podem conviver, prosperar e se respeitar — quando a política não os sequestra.

É isso que vale a pena defender.

Fraterno abraço,

Jorge Pinho”

Nova mensagem do Interlocutor 1: E essa política de roubar terras tem um ingrediente a mais: as grandes reservas de gás e petróleo encontradas recentemente nos litorais do Líbano e da Palestina.

Minha resposta:

“Caro Interlocutor1,

O que você aponta sobre as reservas de gás e petróleo é, de fato, um elemento importante na análise geopolítica da região — e eu concordo que isso não pode ser ignorado.

Mas é justamente aí que a questão ganha uma dimensão muito mais ampla do que apenas “judeus roubando terras de árabes”.

Estamos falando de uma das regiões mais sensíveis do planeta, estrategicamente posicionada entre Europa, Ásia e África, com interesses cruzados de potências globais como EUA, Rússia, China, Irã, Arábia Saudita, Turquia, França, entre outros.

A descoberta de reservas significativas de gás natural na costa do Mediterrâneo — tanto no litoral israelense quanto no libanês e na Faixa de Gaza — mudou radicalmente a equação regional.

Ela não afeta apenas Israel e seus vizinhos. Ela reorganiza o tabuleiro energético da Europa, enfraquece a dependência do gás russo e atrai o olhar de gigantes econômicos e militares.

Esse cenário, por si só, já seria fonte de tensões geopolíticas intensas. Quando somado a conflitos identitários, narrativas históricas mal resolvidas e a presença de grupos extremistas instrumentalizados por potências regionais, temos uma mistura explosiva — onde a verdade passa a ser a primeira vítima.

Por isso, reduzir tudo a uma suposta política expansionista sionista motivada por ódio religioso ou étnico é, no mínimo, uma leitura incompleta — quando não convenientemente manipulada.

A luta por terras, energia e poder está sempre cruzada por interesses que não respeitam fronteiras nem povos.

E é exatamente por isso que a ideologização simplista que transforma um povo inteiro em vilão serve, muitas vezes, aos mesmos interesses escusos que ela afirma combater.

Devemos sim seguir o fio do petróleo, do gás e do dinheiro.

Mas sem esquecer de seguir, junto com ele, o fio da verdade e da justiça.

Com firmeza e lucidez,

Jorge Pinho

Interlocutor 1 concorda em parte: “Verdade. Porém, é importante destacar que os judeus do Amazonas não são israelenses e nem do Oriente Médio, e chegaram aqui muito antes da implantação de Israel pelos ingleses em terras palestinas. A maioria dos judeus do Amazonas veio do mundo árabe. Muitos são árabes de fé judaica e convivem com os demais árabes (sejam cristãos ou muçulmanos) pacificamente, inclusive convivem com os palestinos daqui. Essa convivência precisa ser preservada. Por isso, todos deveriam ser uma voz pelo fim da opressão na Palestina, que é um dos principais motivos da desestabilização do Oriente Médio.”

Minha resposta:

“Caro Interlocutor 1,

Você tem razão ao lembrar que muitos judeus do Amazonas não são israelenses nem vieram diretamente do Oriente Médio, e que, sim, a maioria chegou aqui oriunda de países árabes — e conviveram e seguem convivendo de forma respeitosa com cristãos, muçulmanos e palestinos.

Essa convivência precisa mesmo ser preservada — e valorizada como exemplo.

Mas é importante lembrar algo essencial que o rabino Nilton Bonder ensina com clareza e profundidade:

o povo judeu é a única nação da história que sobreviveu séculos sem território — e ainda assim se manteve como povo.

Enquanto impérios caíam e novas fronteiras surgiam, os judeus permaneceram como uma identidade espiritual, ética e cultural — não reduzida a terra, mas sustentada por uma tradição milenar de estudo, memória e esperança.

Quando Israel foi finalmente reconhecido como Estado moderno, não foi uma “implantação” inglesa, mas a concretização tardia de um retorno ancestral, celebrado há milênios em orações, rituais e textos sagrados.

A legitimidade de Israel, portanto, não está apenas na política do século XX, mas na fidelidade histórica de um povo à sua origem — mesmo sob perseguições, diásporas e massacres.

A opressão deve ser combatida, sim — em toda parte.

Mas para que haja paz verdadeira, ela precisa ser construída sobre a verdade histórica e não sobre narrativas ideológicas.

Preservar a convivência pacífica no Amazonas e em outros lugares do mundo é um dever — mas não à custa da verdade, nem da identidade de um povo que nunca deixou de existir, mesmo quando não tinha onde pisar.

Com firmeza e respeito,

Jorge Pinho”

Interlocutor 1: A Palestina nunca foi esvaziada de sua população judaica pra justificar um “retorno”. Antes de Israel existir, judeus conviviam pacificamente com os demais grupos religiosos. Eram todos palestinos. Não eram divididos em grupos religiosos, mas unidos pela identidade nacional palestina deles. Esses judeus que chegam da Europa antes de 1948,  não estão fazendo “retorno”, pois são europeus que, em algum momento da história, se converteram ao judaísmo. Eles, na verdade, chegam para fugir das perseguições na Europa. E quem fala isso não sou eu. São os próprios palestinos judeus. Tem muitos vídeos onde eles explicam como esses europeus de fé judaica não possuem relação ou vínculo com os judeus do passado. Aliás, antes de escolherem a Palestina, foi cogitado criar

Israel na África e na América do Sul, o que mostra que eles não estavam preocupados com um suposto “retorno” para o Oriente Médio, de onde eles nunca saíram totalmente. Sempre teve comunidades judaicas no Líbano, na Síria, no Iraque e no Irã, onde está a maior colonos judaica (persas de fé judaica).”

Minha resposta:

“Caro Interlocutor 1,

Você traz argumentos que merecem ser ouvidos com atenção — e por isso, antes de discordar, quero reconhecer o valor do seu esforço em buscar um olhar crítico sobre o tema.

Mas justamente por respeitar a profundidade da história, é que me sinto no dever de oferecer uma visão diferente.

Você afirma que os judeus europeus que migraram para a Palestina não estavam “retornando”, mas apenas fugindo de perseguições — e que não teriam vínculos com os judeus do passado.

No entanto, essa visão ignora um fato essencial: a identidade judaica nunca foi apenas étnica ou territorial — ela é, acima de tudo, espiritual, histórica e cultural.

Nilton Bonder explica com clareza que o povo judeu é a única nação da história que sobreviveu séculos sem território, mantendo sua coesão por meio da memória, da tradição, do estudo e da fidelidade a um vínculo ancestral com a Terra de Israel — um vínculo que atravessa orações, textos sagrados e gerações inteiras que terminaram a refeição de

Pessach dizendo: “No próximo ano, em Jerusalém.”

Esse retorno, portanto, não é apenas físico — é um retorno da consciência. Da alma de um povo que nunca deixou de ser povo, mesmo exilado.

Você lembra, com razão, que antes de 1948 havia convivência entre judeus, cristãos e muçulmanos na Palestina. E essa convivência, de fato, merece ser lembrada e preservada.

Mas conviver não significa abrir mão da aspiração nacional legítima — e foi justamente a repetição das perseguições ao longo da história que tornou a criação do Estado de Israel uma necessidade existencial.

Você também menciona que sempre houve judeus no Oriente Médio — e isso é verdade.

Mas as alternativas territoriais como Uganda ou Argentina só foram cogitadas em momentos de desespero — e rejeitadas pela maioria do próprio povo judeu, que jamais esqueceu a promessa feita a Abraão.

E aqui está o ponto mais profundo que gostaria de destacar:

Abraão é pai de todos nós.

É o patriarca comum a judeus, cristãos e muçulmanos.

Reconhecer isso é mais do que um ato teológico — é um gesto de humildade histórica.

Se temos o mesmo pai, como podemos desejar a destruição uns dos outros?

Essa não é apenas uma disputa por terras — é uma crise de memória espiritual.

E enquanto insistirmos em olhar o outro como inimigo e não como irmão de origem, não haverá paz que resista.

A minha postura, como sempre, não é de tomar lados ideológicos — mas de lembrar que a justiça começa onde termina o ódio, e que a verdade não precisa gritar para ser firme.

Com respeito e esperança,

Jorge Pinho”

Encerramos assim nosso debate.

3.2. Diálogo com Interlocutor Pró-Palestina 2

Meu diálogo com o Interlocutor 2 foi mais rápido.  Primeiro ele me enviou  este link:

https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2024/09/17/ataque-coordenado-atinge-

aparelhos-de-comunicacao-do-hezbollah-no-libano-9-pessoas-morrem-e-quase-3-mil-ficam-feridas.ghtml?utm_source=whatsapp&utm_medium=share-bar-mobile&utm_campaign=materias

Com a seguinte mensagem num tom compreensivelmente ressentido: “Seu artigo não trata disso!”

Confesso que desde que escrevi o artigo já estava preparado e até mesmo desejando esse tipo de rara oportunidade de dialogar sobre uma questão tão fundamental e, já munido pelos argumentos que tive que apresentar ao Interlocutor 1, mandei a seguinte resposta:

“Caro Interlocutor 2,

A essa altura, vejo que não estamos apenas diante de uma divergência pontual sobre os fatos, mas de duas formas distintas de interpretar uma realidade geopolítica complexa — e infelizmente cada vez mais manipulada.

De um lado, há quem tente compreender a história com responsabilidade moral, buscando nuances e raízes profundas. De outro, uma narrativa ideológica que, embora pareça justa à primeira vista, se alimenta do mesmo ódio e reducionismo que diz combater.

Você me encaminha uma matéria sobre ações militares de Israel no Líbano, como se meu artigo ignorasse esse tipo de fato. Mas o ponto central do texto que escrevi não é negar que haja sofrimento de ambos os lados — é impedir que esse sofrimento seja instrumentalizado por discursos enviesados.

Meu texto denuncia o culto à destruição, a ideologização da dor e a lógica binária que transforma tudo em opressor e oprimido — sem investigar contexto, origem dos ataques ou a ação de grupos como Hamas e Hezbollah, que são reconhecidamente organizações terroristas por dezenas de países.

O fato de existirem abusos e excessos — o que deve ser criticado com responsabilidade — não autoriza a equivalência entre autodefesa e extermínio, entre resistência e terrorismo, entre justiça e vingança.

Esse tipo de inversão moral é justamente o que sustenta ideologias destrutivas — e o que a mídia marxista contemporânea, travestida de “justiça social”, tem feito com especial e perniciosa maestria.

Meu artigo convida à reconstrução, à

lucidez e à compaixão.

Honra a dor palestina sem negar o direito de Israel à existência e à defesa.

E alerta contra o discurso do ódio — de qualquer lado.

Dito isso, te faço uma proposta franca e honesta:

Escreva um artigo. Com os argumentos que você julgar válidos, com os dados e interpretações que desejar.

Vamos discutir isso sob a luz da lógica, da razão e da responsabilidade intelectual.

Eu me comprometo publicamente a publicar seu texto na íntegra — desde que seja civilizado, sem ofensas a qualquer povo, fé ou pessoa.

E, após a publicação, farei uma resposta ponto a ponto, com base em fatos, história e princípios morais.

Não para “vencer”, mas para pensar juntos diante do público.

Porque o verdadeiro debate não confronta pessoas — confronta ideias.

Se você acredita mesmo no que diz, e se está comprometido com a verdade mais do que com a narrativa, aceite o convite.

Caso prefira seguir no campo dos recortes de notícias e frases soltas, entenderemos que estamos em esferas distintas.

Mas reafirmo: o pensamento é uma ponte possível — desde que o respeito venha antes da raiva.

Com firmeza e abertura,

Jorge Pinho”

Meu Interlocutor 2, um excelente contador, culto e preparado, respondeu prontamente e com sutil provocação: “Desafio aceito, não por vaidade, mas com intuito de mostrar o reverso da medalha e a invasão das terras de um filho subalterno que triunfou sobre um irmão primogênito que não soube conquistar seu povo, levando-os a diáspora e que se encontram perdidos até hoje invadindo terras de terceiros, que ainda não invadiram a amazônia pois tem um outro grupo, preparando a sua invasão.”

Minha resposta:

” Caro Interlocutor 2, meu amigo,

Fico genuinamente satisfeito com sua disposição em aceitar o desafio — não como embate, mas como exercício elevado do pensamento.

Essa é justamente a riqueza do verdadeiro debate escrito: permitir o confronto respeitoso entre visões de mundo, abrir espaço para o reverso da medalha, sem perder a lucidez sobre o material de que ela é feita.

Sua metáfora sobre os filhos de Abraão é poderosa — e me permite retomar uma ideia que considero essencial:

Abraão não foi apenas um personagem histórico. É um arquétipo, uma origem comum que une judeus, cristãos e muçulmanos em um mesmo sopro espiritual.

Negar essa fraternidade original é perpetuar a lógica de Caim e Abel, em que só resta um quando o outro é eliminado.

Ao longo dos séculos, o povo judeu sobreviveu não como império, mas como memória.

Sobreviveu não porque venceu guerras, mas porque sustentou uma aliança invisível com a esperança.

Foi espalhado, humilhado, perseguido — e, mesmo sem terra, nunca deixou de ser povo.

A criação do Estado de Israel, com todos os seus erros, conflitos e complexidades, não foi um ato de vaidade política.

Foi um retorno à dignidade de um povo que jamais desistiu de sua identidade.

Como escreveu Nilton Bonder, os judeus são o único povo da história que sobreviveu séculos sem território, sem exército, sem bandeira — e ainda assim não desapareceu.

Afirmar que os judeus “invadem terras de terceiros” ignora essa história de dor e resistência, e transforma o agredido em agressor, como se a defesa de um lar finalmente reconstruído fosse um gesto ilegítimo.

A menção à Amazônia — como suposto próximo alvo — toca um ponto sensível para mim, que sou filho, neto e bisneto de imigrantes portugueses que nunca abandonaram os laços com Portugal, nossa terra ancestral. Mas também sou filho desta terra, da Amazônia, e carrego no meu sangue o DNA indígena desta região. Mas nem por isso deixei de guardar na memória o esforço de imigrantes judeus, sírios, libaneses e árabes que aqui chegaram para construir, e não conquistar.

Reduzir isso a “invasão” é ceder ao mesmo espírito de desconfiança que fere todas as tentativas de convivência.

Aliás, para nós amazônidas, todo sangue novo é sinal de renovação de vida por conta do nosso isolamento geográfico e civilizacional. Disso resulta nossa hospitalidade — não como um traço de polidez, mas como uma sabedoria ancestral voltada à sobrevivência.

  1. A verdade das fontes: Ismael e Isaac

Sim, Ismael foi o primogênito biológico, nascido de Agar, serva egípcia de Sara (Gênesis 16).

Mas Isaac, nascido depois, de Sara, a esposa legítima, é o filho da promessa divina, como resta claramente estabelecido, em texto comum a pelo menos duas religiões (Gênesis 17:19-21).

“Na verdade, Sara, tua mulher, te dará um filho, e tu o chamarás de Isaac. Com ele estabelecerei a minha aliança eterna e com a sua descendência depois dele. Quanto a Ismael, também te ouvi. Eis que o abençoarei […] Mas a minha aliança eu estabelecerei com Isaac.

Essa distinção é reconhecida nas tradições judaica e cristã, que identificam em Isaac o herdeiro espiritual e histórico da aliança abraâmica

Já o Islã, embora também considere Abraão um patriarca, atribui a Ismael o

papel de ancestral direto de Maomé — e aí as narrativas se separam, não sem dignidade, mas com caminhos distintos.

Portanto, o que você descreve como “subalternidade” é, na verdade, a consequência de um modelo familiar patriarcal poligâmico, cujos frutos foram, infelizmente, desde o início, a exclusão e o ressentimento.

  1. Famílias e sucessões: a metáfora da herança mal resolvida

A Bíblia está cheia de dores decorrentes dessa matriz: Jacó e Esaú, José e seus irmãos, Davi e seus filhos.

Hoje mesmo, famílias tradicionais semitas, não apenas judaicas, vivem os dramas de uma herança mal partilhada, que preferia escolher e excluir, em vez de integrar e reconciliar.

E aqui entra algo pessoal:

Meu pai, homem simples e íntegro, não deixou fortunas nem tronos — mas, instigado e instado pela sabedoria cabocla de minha mãe (que insistia em não deixar problemas de partilhas entre seus filhos, no Brasil e em Portugal), deixou uma sucessão de afetos bem resolvida.

Meu pai, com a força espiritual de minha mãe ao seu lado, planejou com sabedoria, justiça e amor.

E é por isso que hoje, meus irmãos e eu, seus filhos, vivemos em paz, com gratidão e honra ao seu nome e podemos desfrutar juntos em Angeja, celebrando nossa união e respeito aos nossos saudosos pais, com paz, amor e harmonia.

Talvez seja justamente isso que faltou aos grandes patriarcas da Bíblia: não fé — mas previsão

  1. A mesa de Abraão

Sigo firme no convite: escreva seu texto — com seus argumentos, suas fontes, suas convicções.

E eu me comprometo a responder com respeito, rigor filosófico e serenidade — não para vencer, mas para elevar.

Porque, quando os filhos de Abraão se assentam à mesma mesa, o que está em jogo não é o território, mas a fidelidade à promessa — e o resgate da hospitalidade que o próprio patriarca ofereceu a estranhos, sob a tenda aberta no deserto.

Abraão não fundou um império — fundou um modo de acolher.

E é justamente essa tenda — aberta aos três viajantes e aos três credos que surgiram a partir dele — que deveria nos lembrar que somos irmãos antes de sermos adversários, e herdeiros de uma aliança antes de sermos rivais — seja em fronteiras físicas ou em ideias.

  1. Venha com espírito aberto

Venha com o espírito aberto e preparado — assim como eu venho.

Pronto, não para reafirmar convicções a qualquer custo, mas para, se for o caso, reconhecer a força da tua tese e até defendê-la, se ela se mostrar mais próxima da verdade.

Ou, ao menos, para que possamos lançar

pontes sinceras na direção dela — e um na direção do outro.

Com firmeza, amizade e abertura

Jorge Pinho

Assim encerrei o segundo diálogo.

  1. Considerações finais

Sigo absolutamente disponível para o debate. Minha postura não é de defesa cega a qualquer lado, mas de busca contínua por justiça, dignidade e coerência moral — sem apelos ao ressentimento ou à manipulação das feridas da história.

E, se até aqui tratamos dos conflitos entre descendentes de Isaac e Ismael, vale lembrar que também no seio do próprio Islã há uma ferida profunda e dolorosa: o cisma entre xiitas e sunitas.

A meu ver, essa divisão — também nascida de um problema sucessório mal resolvido — prolonga até hoje antagonismos que, em vez de fortalecer a fé, frequentemente a transformam em trincheira.

Assim como o patriarcado poligâmico de Abraão produziu disputas entre irmãos de sangue, também a herança mal compreendida do Profeta Maomé gerou conflitos internos entre irmãos de fé.

É preciso dizer com serenidade: o Oriente Médio não está dilacerado apenas pela presença de Israel, mas também por feridas internas entre os próprios povos árabes e muçulmanos.

É por isso que convido todos — muçulmanos, judeus, cristãos, agnósticos — a um esforço comum: reconhecer erros, superar ressentimentos e reconstruir a linguagem da fraternidade perdida, o que somente pode ser feito à luz do pensamento refletido pelo que há de melhor na Filosofia: o método socrático.

  1. Epílogo: Um convite à lucidez

Este texto não é um ponto final. É uma ponte.

Escrevi para pensar — e convido você, leitor ou leitora, a fazer o mesmo.

Não para aplaudir ou rejeitar automaticamente o que foi dito, mas para dar um passo além do grito.

Se você discorda profundamente, escreva. Envie seu artigo, sua carta, seu ensaio.

Não precisa se identificar — basta respeitar as regras mínimas da civilidade: nada de ofensas, nada de incitação ao ódio, nada de ataques pessoais.

Comprometo-me a publicar as contribuições recebidas, desde que tragam argumentos, ideias e propostas consistentes.

E responderei com o mesmo espírito: firmeza, mas respeito. Discordância, mas abertura. Pensamento, não guerra.

Porque, se há algo que aprendi com os filhos de Abraão, é que o diálogo — quando sincero — é sempre maior que qualquer fronteira.

Envie sua contribuição para: [[email protected]. br]

Com firmeza, esperança e gratidão,

Apresentação

Este artigo nasce do encontro entre pensamento, coragem e escuta. Ao publicar um texto tratando sobre o conflito entre Israel e Palestina, o autor recebeu reações intensas — algumas elogiosas, outras duramente críticas. Em vez de recuar ou revidar, ele escolheu responder com firmeza e abertura, transformando o confronto em convite, e o grito em reflexão.

Cartas ao Desconforto é, assim, mais do que uma defesa de ideias: é uma demonstração viva de que o debate escrito, quando conduzido com respeito e rigor, pode ser uma ponte em tempos de muros.

Aqui estão transcritos, na íntegra, dois diálogos com interlocutores pró-Palestina. Ambos foram tratados com humanidade, lógica e amor pela verdade. O texto não busca impor posições, mas mostrar que o pensamento é sempre possível — desde que o respeito venha antes da raiva.

É um chamado à lucidez.

E um convite à altura da complexidade humana.

Jorge Pinho

(*) O autor é advogado, Procurador do Estado aposentado, ex-Procurador-Geral do Estado do Amazonas e membro da Academia de Ciências e Letras Jurídicas do Estado do Amazonas – ACLAJ.