Janeiro Branco e as doenças da visão

Estudos demonstram que doenças oculares podem impactar significativamente a saúde mental

Tradicionalmente janeiro é conhecido como o mês de prevenção e conscientização sobre a saúde mental, período que tem o objetivo de sensibilizar a população sobre a importância do cuidado com a saúde e encorajar usuários a buscar ajuda profissional. Em paralelo traz um alerta sobre a relação do bem-estar psicológico e os problemas da visão, que atualmente são muito prevalentes em nossa população.

Estudos demonstram que doenças oculares como catarata, glaucoma, olho seco, degeneração macular relacionada a idade e retinopatia serosa central podem impactar significativamente a saúde mental, aumentando os riscos de depressão, ansiedade e isolamento social.

A catarata, doença comum após os 60 anos de idade, é caracterizada pela opacidade da lente natural do olho, conhecida como cristalino. Já o glaucoma é definido por lesão no nervo óptico, muitas vezes acompanhado ou não pelo aumento da pressão intraocular. O olho seco, um velho conhecido da população, é uma condição caracterizada por sensação de ardor, corpo estranho e visão embaçada em pacientes com baixa lubrificação ocular. A degeneração macular relacionada a idade tem uma prevalência em indivíduos de idade avançada e sintoma de distorção na visão central, e por fim a retinopatia serosa central apresenta intima relação com o estresse

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que quase 12 milhões de brasileiros convivem com depressão, representando 5,8% da população. A cirurgia de catarata, por exemplo, tem demonstrado ser benéfica nessa questão em vários estudos, restaurando a função visual e melhorando significativamente a qualidade de vida dos pacientes.

Sobre a catarata, os estudos indicam que a melhora na acuidade visual após a cirurgia está diretamente relacionada à redução de sintomas depressivos e ao aprimoramento da função cognitiva, especialmente em idosos. Por outro lado, a retinopatia serosa central, destaca como fatores psicológicos podem afetar diretamente a visão.

Doenças crônicas da visão frequentemente levam ao aumento dos casos de depressão. Em um estudo realizado na China, cerca de 25% dos pacientes com glaucoma, degeneração macular e outras condições desenvolveram depressão. Embora o impacto psicológico seja maior em doenças com prognóstico reservado, como a degeneração macular, a integração de cuidados oftalmológicos com abordagens multidisciplinares é fundamental para tratar os pacientes de maneira holística.

É importante saber que não basta tratar apenas a condição ocular. É essencial abordar aspectos emocionais e sociais com as terapias corretas. A atuação de uma equipe multiprofissional envolvendo oftalmologistas, psicólogos, psiquiatras e outros profissionais de saúde é indispensável. Além disso, o suporte familiar e a iniciativa do próprio paciente em buscar ajuda são cruciais para o sucesso do tratamento.

A campanha do janeiro branco de prevenção e conscientização sobre a saúde mental é a oportunidade que muitos indivíduos tem de serem diagnosticados, acolhidos e tratados de forma correta, afinal, saúde não é apenas a ausência de doenças, mais o bem estar físico, mental e social. Viva a saúde.

 

*Médico Oftalmologista, especialista em Gerontologia e Saúde do Idoso. Pesquisador da FUnATI. Professor Universitário e Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas pela Fundação de Medicina Tropical (UEA/FMT).