Santa Luzia e as doenças oculares: uma reflexão de fé

Mais do que uma data religiosa, o dia de Santa Luzia sempre serviu como um lembrete da importância de preservar a saúde ocular

No dia 13 de dezembro, a Igreja celebrou a festa de Santa Luzia, conhecida como a padroeira dos olhos e da visão. A devoção a Santa Luzia atravessou séculos e se tornou símbolo de fé e esperança para aqueles que buscavam proteção contra doenças oculares e para os profissionais dedicados ao cuidado da visão. Mais do que uma data religiosa, o dia de Santa Luzia sempre serviu como um lembrete da importância de preservar a saúde ocular, um dos bens mais preciosos do ser humano.

Ao longo da história, diversas doenças oculares afetaram milhões de pessoas em todo o mundo. Entre as mais comuns estavam a catarata, o glaucoma e as doenças da retina, como a retinopatia diabética e a degeneração macular relacionada à idade (DMRI). A catarata, por exemplo, é considerada a principal causa de cegueira reversível e esta associada ao envelhecimento do cristalino, levando à perda progressiva da visão. O glaucoma, por sua vez, é conhecido como “uma doença traiçoeira” porque destrói o nervo óptico de maneira irreversível, sem sintomas evidentes até estágios avançados. Muitas pessoas perderam a visão simplesmente por falta de diagnóstico precoce e controle adequado.

As doenças da retina também tiveram um impacto significativo na população, especialmente com o envelhecimento e o aumento da incidência de diabetes. A retinopatia diabética, uma das complicações mais graves do diabetes, comprometeu os vasos sanguíneos da retina e resultou em cegueira quando não tratada. Já a DMRI, que afeta principalmente idosos, tornou-se a causa mais comum de cegueira irreversível, prejudicando a visão central e limitando atividades cotidianas, como leitura e reconhecimento de rostos.

Foi nesse contexto que a figura de Santa Luzia se tornou tão importante. Seu nome, que significa “luz”, inspirou gerações de fiéis que buscavam consolo e proteção contra os desafios relacionados à visão. Segundo a tradição, Luzia foi uma mártir cristã do século IV que, ao manter sua fé em meio à perseguição, teria tido seus olhos arrancados. Mesmo assim, permaneceu firme em sua devoção, tornando-se símbolo da luz espiritual que supera qualquer escuridão.

Enquanto a fé confortava espiritualmente, a ciência e a medicina avançaram para combater essas doenças. Os cuidados preventivos, as consultas regulares com oftalmologistas e os tratamentos modernos passaram a garantir melhores prognósticos para milhões de pessoas. A conscientização sobre hábitos saudáveis, como o controle do diabetes, o uso adequado de colírios e a proteção contra os raios solares, desempenhou papel essencial na preservação da visão.

Na celebração de Santa Luzia, as pessoas não apenas renovaram sua fé, mas também refletiram sobre a importância da saúde ocular em suas vidas. A data foi uma oportunidade para lembrar que a visão, um sentido tão valioso, exigiu cuidado constante, ciência e prevenção. Que o exemplo de Santa Luzia continue a inspirar aqueles que enfrentaram desafios relacionados à visão e a iluminar os caminhos dos profissionais que se dedicaram a devolver a luz e a esperança a tantas vidas.

 

**Médico Oftalmologista, especialista em Gerontologia e Saúde do Idoso. Pesquisador da FUnATI. Professor Universitário e Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas pela Fundação de Medicina Tropical (UEA/FMT).