Manaus – Municípios do interior do Amazonas começaram a endurecer medidas restritivas devido à crise na saúde do estado, agravada pelo aumento expressivo de internações de pacientes por Covid-19. Nesta quinta-feira (14) a população de Manaus vivenciou o pior dia desde o início da pandemia no estado e contabilizou várias mortes de por falta de abastecimento de oxigênio nos hospitais. A reportagem do d24am conversou com representantes e moradores de alguns municípios do interior do Amazonas para averiguar a situação dessas localidades.
- Cemitério de Itacoatiara (Foto: Divulgação)
- Medidas restritivas no município de Japurá(Foto: Divulgação)
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Manacapuru
Em situação semelhante a Manaus, o município de Manacapuru (a 68 quilômetros a oeste de Manaus) também teve explosão de casos de covid-19 junto à capital amazonense. A situação no município é uma das graves do estado, como explica Rodrigo Balbi, secretário municipal de saúde de Manacapuru. “Quando aconteceu a segunda onda em Manaus, também aconteceu aqui. Houve aumento expressivo no curto espaço de tempo do número de novos casos e também de casos graves. Hoje, com relação à primeira onda existem muitos mais casos graves que necessitam de UTI do que na primeira fase da pandemia”, afirmou o secretário.
Unidades Básicas de Saúde foram abertas para atendimento para casos leves e o hospital campanha está disponível para atendimentos dos casos de maior gravidade. O enfermeiro da atenção básica Iago Orleans, afirmou que há um prenúncio de colapso na rede de saúde e que o município já ascende alerta sobre a falta de oxigênio nas unidades de saúde. “Temos unidades atendendo acima da demanda comum e profissionais adoecendo, o que diminui a força de trabalho. Também há dificuldade de encaminhamento para a unidade hospitalar devido a superlotação. Apesar de todos os esforços da gestão, que tem se articulado de forma eficaz, com estratégias pensadas, a situação tem fugido da nossa capacidade de resolução”, desabafou o enfermeiro.
Itacoatiara
No município de Itacoatiara (a 176 quilômetros a leste de Manaus), a situação também está crítica com casos diários de óbitos, entre jovens e idosos. A Secretaria Municipal de Saúde do município está contratando médicos. Segundo Eduardo Bertoni, ex-secretário de infraestrutura da cidade, houve um aumento significativo do número de casos da cidade que pode ter sido ocasionado pelas comemorações de fim de ano. “Aqui em Itacoatiara não está diferente de Manaus. Há corrida contra o tempo pois precisamos de Oxigênio. O nosso hospital também atende outros municípios e está com 100% de lotação. Aqui a maternidade e a ala pediátrica funcionam dentro do hospital” afirmou o ex-secretário do município.
Em uma publicação no Facebook, a médica e secretária de saúde de Itacoatiara, Rogéria Peixoto, fez um apelo para a implantação de uma usina de oxigênio no município. A representante da pasta relata que o hospital da cidade tem 76 pacientes em estado grave e que o tanque de oxigênio não é abastecido há mais de 24h. “Imploro sua ajuda ao interior do Amazonas, em especial a Itacoatiara. Temos realizado junto ao nosso prefeito, tentativas de compra de oxigênio em Manaus e outros estados, mas tudo demora. A logística do Amazonas é complicada. Uma usina de oxigênio seria ideal”, diz a publicação.
Novo Airão
Já na cidade de Novo Airão (a 115 quilômetros a noroeste de Manaus), houve aumento significativo dos casos positivos para Covid-19 e a população segue o regime de lockdown. Segundo a professora e subsecretária de educação do município, Chyntia do Vale, a cidade está em lockdown até o dia 22 de janeiro. “O comércio funciona com restrição, fechamento e toque de recolher às 18h. Não está tendo ônibus, táxi lotação e nem acesso por barco”, afirmou. Apesar de medidas restritivas estarem sendo adotadas, ainda há muitas pessoas que não seguem as prevenções. A professora atribuiu o aumento de casos às aglomerações durante as eleições municipais de 2020.
Urucará
Em Urucará (a 261 quilômetros a leste de Manaus), também passa por problemas semelhantes aos de Manaus com superlotação nos hospitais e falta de oxigênio. Conforme a dona de casa Tereza Gama, o município é pequeno e tem um número considerável de moradores. “Os hospitais estão cheios e com falta de oxigênio. As pessoas não têm condições de comprar cilindros. A situação não está nada boa, há muita gente infectada e se tratando em casa”, disse a dona de casa.
Coari
No município de Coari (a 363 quilômetros a oeste de Manaus), o número de mortes se mantém estável apesar do aumento de casos. Segundo o comerciante Archipo Góes, a maior parte da população voltou a usar máscaras e há restrição de transporte de passageiros em barcos. “Está havendo somente transporte de cargas, por isso, os supermercados continuam abastecidos e não há falta de produtos em geral. Hoje foi divulgado um decreto municipal em que está proibido o funcionamento de clubes, casas noturnas, bares, atividades esportivas ou culturais.
Médico infectologista e professor de Medicina da UFAM – ISB – Coari, Maurício Borborema publicou nota orientando e desmistificando as “fake News” que circulam pelas redes. “A prevenção é a arma mais importante que temos contra a covid-19. Evite sair de casa, principalmente para aglomerações. Se precisar sair, use máscara limpa e, ao voltar, lave bem as mãos. Use álcool gel. Não existem medicamentos para prevenção da covid-19. A resposta do organismo ao vírus é individual e depende de fatores genéticos e fatores de risco que a pessoa possa ter (diabetes, obesidade, hipertensão são os mais importantes)”, informa parte da nota.
Tefé
No município de Tefé (a 523 quilômetros a oeste de Manaus), na região do Médio Solimões, segundo informações conferidas pela Secretaria Municipal de Tefé, o Hospital Regional (referência para tratamento da COVID na região) está com taxa de ocupação de leitos COVID em 82%, com 43 pacientes internados no momento, sendo 11 em oxigênio e 2 intubados. Segundo Márcia Mileni, representante do Polo Médio Solimões da Defensoria Pública do Estado, o hospital não possui leitos de UTI, o que implica na transferência dos casos mais complexos para Manaus, que também está sem leitos. O Polo Médio Solimões tem sede na cidade de Tefé, mas também tem atribuição para atuação em outras sete cidades da região, quais sejam, Juruá, Jutaí, Japurá, Alvarães, Maraã, Uarini e Fonte Boa.
“Os efeitos da situação caótica da capital já podem ser sentidos na região. Por conta da sobrecarga no sistema de transferência de pacientes, na última quarta-feira (13), a pedido da Defensoria, o Judiciário concedeu liminar determinando a transferência de um grupo de pacientes que necessitam de leitos de Unidade de Tratamento Intensivo e urgência/emergência, mas, até o momento, a decisão não foi cumprida. A demora ocasionou o falecimento de dois pacientes e a necessidade de inclusão de outros dois, entre eles uma criança de três anos de idade, que tiveram agravamento do quadro de saúde”, explicou a representante em conjunto com outros membros do Polo da DPE.
Japurá
No município de Japurá, (a 744 quilômetros a noroeste de Manaus), ainda não há pacientes em estado grave e os hospitais ainda atendem as demandas de rotina. Segundo o jornalista Antônio Neto Cavalcante, o município está realizando uma conscientização nas ruas para orientar os moradores sobre as medidas restritivas.
“Estamos comunicando as orientações à população e estabelecimentos sobre o uso de máscaras, álcool em gel, distanciamento social e toque de recolher às 19h”, afirmou o jornalista.
Envira
Já no município de Envira (a 1.208 quilômetros a sudoeste de Manaus), a população ainda não sentiu os efeitos da segunda onda da pandemia no estado. O pedagogo e assessor de comunicação do município Renato Santana, destacou que a cidade tem apenas um paciente internado no hospital. “O município registrou duas mortes pela doença, sendo a última há 5 meses. A situação por aqui ainda está estável. Um ou outro cidadão desrespeita as medidas de restrição, mas a maioria cumpre. As polícias civil e a militar estão trabalhando também no cumprimento do decreto”, pontuou.
***Matéria atualizada às 18h58***