Manaus – O cientista Lucas Ferrante, doutorando em biologia pelo Instituto de Pesquisas da Amazônia (Inpa), falou sobre uma possível terceira onda da Covid-19 no Estado ainda mais violenta esperada para março. A afirmação foi feita na sessão plenária desta terça-feira (9) na Assembleia Legislativa do Amazonas (ALE-AM) e segundo o cientista, só lockdown severo pode retirar o Estado da fase Roxa.
Ele é um dos autores do estudo que previu a segunda onda da pandemia do novo coronavírus em setembro de 2020. Três meses após o alerta, o Estado bateu recordes de casos, internações e mortes.
Lucas integra um grupo de trabalho de pesquisadores que estuda a pandemia com especialistas do Inpa, Universidade Federal de Minas Gerais, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e do Instituto Butantan, de São Paulo.
Em agosto do ano passado, uma pesquisa foi publicada na revista “Nature Medicine”, que, segundo Ferrante, é um dos maiores periódicos científicos do mundo. “Nossos avisos têm sido negligenciados. Inclusive uma autoridade desta Casa em uma assembleia pública questionou que nosso modelo que anunciávamos de seis mil mortes no fim do ano eram alarmistas, que não chegaríamos a isso. E agora temos mais de 8.500 mortes, o que é lamentável e poderia ter sido evitado”, disse Lucas na plenária da ALE.

Cientista Lucas Ferrante, doutorando em biologia pelo Instituto de Pesquisas da Amazônia (Inpa) (Foto: Divulgação)
O pesquisador fez uma apresentação com dados da primeira e da segunda onda. No estudo foi mostrado que a nova variante não foi responsável pela segunda onda da doença. A nova cepa só foi responsável e predominante pela maioria dos casos no mês de janeiro de 2021.
Segundo pesquisador, a nova variante surgiu em novembro de 2020 e ganhou força com a maior exposição das pessoas ao vírus, no entanto, só em janeiro deste ano, a nova cepa ficou mais em evidência, segundo dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
“Nós trazemos esses dados para mostrar que não foi a nova variante que foi responsável pela nova onda e sim a negligência da falta de tomada de decisão. Esse número é responsável pela perda de imunidade de parte da população que teve contato com o coronavírus e de muitas pessoas que ainda estavam sendo expostas. Nosso modelo aponta que, de fato, aqueles resultados dos estudos da USP (Universidade de São Paulo) que apontavam que mais de 76% da população havia tido contato com o coronavírus, estavam completamente errados. Nós estimávamos que era de 46% e, em dezembro, apenas 50% da população havia tido contato com o vírus”, destacou Ferrante.
“Flexibilização é absurda”
O cientista disse ainda que a nova variante, que é duas vezes mais transmissível, vai se tornar predominante já em março deste ano e quem que foi infectado com a primeira variante, não está imune a segunda variante e pode ser infectado novamente. “Essa linhagem, sendo duas vezes mais transmissiva, se nós não contermos em um curto tempo, é suficiente para que surjam novas mutações e nós podemos ter uma variante resistente às vacinas que estão no mercado. Isso é extremamente preocupante e precisa ser contido imediatamente. Nós recomendamos um lockdown extensivo nesse momento de 20 dias a um mês, onde precisa restringir a circulação de 90% da população de Manaus com uma vacinação em massa que deve cobrir 70% da população nos próximos três meses. É absurdo pensar numa flexibilização agora. Não é porque está caindo a transmissão que você vai abrir, porque, quando você reabre, existe uma retomada nas contaminações”, completou o pesquisador.