Indígenas da etnia Sateré Mawé reclamam do atendimento no Hospital Nilton Lins

Segundo eles, para ter acesso à ala especializada é preciso procurar primeiro outras unidades que não possuem atendimento diferenciado para essa população

Manaus – Um grupo de indígenas da etnia Sataré Mawé reuniu-se em frente ao Hospital de Retaguarda da Nilton Lins, que fica no bairro Flores, zona centro-sul de Manaus, na manhã desta quarta-feira (3). Eles pediam o fim da burocracia encontrada para ter a acesso a Ala Especializada em Saúde Indígena, que não recebe a população indígena de forma direta. Os pacientes devem procurar primeiro outras unidades que não possuem atendimento diferenciado aos indígenas.

A indígena Terezinha Ferreira de Souza foi diagnosticada com o novo coronavírus no sábado (30). Ela mora em uma aldeia localizada na área rural de Manaus, e precisou atravessar o igarapé do Tarumã-Açu, de barco, para receber atendimento. No fim da tarde de terça-feira (2), ela procurou a Ala Especializada em Saúde Indígena do Hospital Nilson Lins, mas seu atendimento foi recusado.

O grupo acompanha uma indígena que foi diagnosticada com a Covid-19 no último sábado (30) (Foto: Marcos Lima/Divulgação)

Terezinha, então, teve que ir ao Hospital Platão Araújo, na zona leste de Manaus, para ser atendida, mesmo já possuindo o diagnóstico que comprovava que ela estava com a Covid-19. A indígena teve que esperar oito horas no Hospital Platão Araújo para depois retornar ao Hospital de Retaguarda da Nilson Lins.

Por volta das 3h da manhã desta quarta-feira (3), Terezinha conseguiu ser internada no Hospital de Retaguarda. Desde então, os indígenas não conseguiram mais informações sobre o estado de saúde dela que, segundo eles, era grave.

“A nossa reivindicação é para que quebre essa burocracia no sistema. Ontem [terça, 2], minha prima veio do Tarumã. Ela já havia sido diagnosticada, mas não foi acompanhada pela Sesai [Secretaria Especial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde] e piorou. A gente achava que esse hospital, que foi inaugurado há três semanas, fosse receber a gente, mas não foi assim. Precisamos ir a outro hospital para saber se minha prima ia ficar internada ou não. Se é uma ala diferenciada, precisamos de um atendimento diferenciado”, disse a indígena Moy.

“Precisamos saber se esse serviço funciona, para que o nosso povo possa vir pra cá. Se continuar dessa forma, como vai ser para o povo de outras etnias que vem buscar atendimento? Vão ter que esperar várias horas? Isso é uma questão de vida. Aqui não funciona como é divulgado na mídia pelo governador”, completou Moy.

Outra reclamação é a falta de informações e do acompanhamento de pessoas especializadas no atendimento à população indígena. “Foi colocada como ala especializada, mas não tem especialistas em saúde indígena, não tem um médico com experiência nas aldeias e que conheça a realidade indígena. Não vamos deixar nossos parentes sozinhos, vamos ficar aqui até receber informações”, finalizou Moy.

A Ala Especializada em Saúde Indígena foi inaugurada no dia 26 de maio com a presença do ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, e do governador do Amazonas, Wilson Lima. É a primeira a ser inaugurada no Amazonas, Estado que possui 60% da população indígena do País. A nova ala tem 53 leitos, sendo 33 leitos clínicos, 15 Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) e cinco Unidades de Cuidados Intermediários (UCI), com possibilidade de expansão. O Hospital Nilton Lins foi inaugurado em 18 de abril, com 95 leitos para tratamentos de pacientes de média e alta complexidade com o novo coronavírus.

Segundo o boletim epidemiológico divulgado na última terça-feira (2), o Amazonas tem 626 casos na população indígena confirmados com o novo coronavírus. Já foram registradas 34 mortes. Na área de Manaus são 92 casos e quatro mortes. A área mais afetada é o Alto Rio Solimões: são 361 casos e 23 mortes.

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