Mercado ‘nerd’ se expande em Manaus com abertura de lojas

Empresas locais tem apostado no comércio de elementos que fazem parte de filmes de ficção

Manaus – Com investimentos que variam entre R$ 2 mil e R$ 70 mil, empreendedores locais têm apostado, cada vez mais, em um segmento que, até então, era considerado ‘restrito’: o comércio de produtos voltados para o público nerd ou geek, como são conhecidos atualmente. Com o avanço da internet e o crescimento de filmes, séries e livros que abordam o tema, investidores de Manaus estão apostando todas as suas fichas neste universo que mistura ficção com realidade.

É o caso de Richard Pontes, 25, proprietário da Inkstroke, loja virtual de camiseta que usa como plataforma o Instagram. Formado em Eletrônica Digital, ele estava enfrentando dificuldades para conseguir uma vaga de emprego no Distrito Industrial e, com isso, passou a trabalhar como motorista de uma empresa de uniformes. A partir daí, percebeu que empresa terceirizava os serviços de costura e pintura.

Richard Pontes deixou o emprego de motorista para criar sua própria loja virtual que comercializa camisetas (Foto: Raquel Miranda)

“Tive a ideia de terceirizar serviços para a empresa de uniformes que trabalhava, de abrir uma empresa na área de serigrafia e passei a buscar conhecimento, estudar mesmo sobre isso, como trabalhar e quais materiais comprar. Economizei dinheiro para poder mandar a proposta para a minha chefe, na época. No começo, era mais uma estamparia para terceirizar serviço”, lembra.

Com o pedido de um amigo para que fizesse uma camisa e, consequentemente, sua estampa, Pontes começou a se interessar ainda mais pela área e decidiu montar uma loja virtual de camiseteria e trabalhando não somente para o atacado, mas também para o varejo. Com isso, largou o trabalho de motorista para poder se dedicar em tempo integral ao seu próprio negócio.

30 é o número de camisetas que o empreendedor Richard Pontes, responsável pela loja virtual Inkstroke, comercializa por semana. Segundo ele, seu lucro varia entre R$ 1 mil e R$ 1,2 mil, podendo chegar a R$ 2 mil.

“A demanda começou a aumentar, então foi aí que pedi para sair do trabalho e me dedicar na área de serigrafia, surgindo assim, em dezembro de 2016, a Inkstroke. Hoje, tento conciliar os serviços terceirizados com a empresa com os da camiseteria. Mas a loja é que tem dado mais resultado, o público gosta muito das estampas diferentes, que realmente não eram muito comuns em Manaus e justamente este era o meu foco”, completa.

Para abrir a empresa, foram investidos cerca de R$ 2 mil, que foram arrecadados com conserto de celulares e notebooks, além da venda da sua televisão e celular. “Conheci um rapaz, que pediu pra eu ir consertar o notebook dele. Quando cheguei ao local, ele tinha uma área de serigrafia muito grande, ele tinha 20 anos no mercado. Então, sugeri que o dinheiro do serviço fosse trocado por seus conselhos e dicas sobre a área. Ele era de uma zona e eu de outra, então não iria interferir na concorrência”, comenta.

Com três meses de funcionamento, o empreendedor conseguiu recuperar o seu investimento e render um salário de R$1 mil a R$1,2 mil, mas já chegou a faturar mais de R$ 2 mil, vendendo cerca de 30 camisetas por semana. Atualmente, a empresa está com 11 meses.

“Hoje, estou com um celular melhor do que eu tinha antes e já recuperei todo o investimento que fiz, eu morava de favor, agora já sou independente, moro sozinho e pago minhas contas, tudo com o dinheiro das vendas de camisa”, completa.

Gastronomia

Mas se engana quem acha que o universo nerd é restrito somente à venda de camisetas. Os engenheiros elétricos Hibson Demmis, 30, e Adalberto Júnior, 31, realizaram um sonho de abrir a hamburgueria Tetris Game Burguer, unindo duas paixões de criança: Mario Bros e Donkey Kong.

“Como não tínhamos conhecimento na área, decidimos estudar os jogos para podermos usar a temática em nossas criações. Decidimos, também, investir em cursos diversos de hambúrguer e visitamos outras hamburguerias fora do Estado para obtermos mais informações”, disse o sócio-proprietário Hibson Demmis.

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Os sócios Hibson Demmis e Adalberto Júnior levaram o universo dos games para dentro de uma hamburgueria (Foto: Reinaldo Okita)

Ambos continuam atuando em suas áreas de formação, mas Demmis ressalta que as escolhas dos personagens, para a hamburgueria, tem uma forte influência para quem quer relembrar o tempo em que o jogos não eram recheados de apetrechos e gráficos avançados.

“Acho que eles (os jogos) foram a ‘paixão’ de muitos adolescentes. Quem não gosta de lembrar de coisas boas do passado? Tinha uma locadora de SuperNintendo ao lado de casa, então fugia direto para jogar. Eram bons tempos”, diz.

“A aceitação está melhor do que o planejado. Estamos tendo um retorno bastante positivo dos clientes. Pela projeção, pretendemos um retorno em 15 meses”, diz Hibson Demmis, empreendedor.

O investimento no local foi de quase R$ 70 mil: incluindo desde decoração e treinamentos até a aquisição de equipamentos. Mesmo com apenas 40 dias de funcionamento, Demmis acredita que dentro de um pouco mais de um ano ele e o sócio conseguirão repor o capital investido.

“Por enquanto, a aceitação está melhor do que o planejado. Estamos tendo um retorno bastante positivo por parte dos clientes. Pela projeção do local, pretendemos um retorno em 15 meses. Pela média, temos uma rotatividade de 20 a 25 pessoas por dia. Óbvio que como temos pouco tempo ainda não é uma conta exata”, finaliza ele.

Especialista dá dicas para quem deseja empreender atualmente

De acordo com Antonio Matos, especialista em Competências Profissionais e Habilidade no Trato com as Pessoas, os três empresários começaram da maneira certa, avaliando o mercado e o público. “Antes de tudo, é preciso fazer uma pesquisa de mercado. Outra coisa que deve se observar é se o foco é a prestação de serviços ou movimentação de um produto físico no mercado. Não tenho dúvida que o primeiro a se observar é a cultura do cliente a ser atendido”, esclarece.

O especialista diz, ainda, que ter o conhecimento do que você vai oferecer é fundamental, se investir em algo que não domina, os riscos de falência são grandes.

“Conhecer tecnicamente aquilo que se vai oferecer é um requisito fundamental, porque é isso que faz o empreendedor ter respostas dos clientes. O primeiro produto que alguém compra, em qualquer empresa seja virtual ou física, é a informação. Quem melhor souber informar e com mais rapidez, vai produzir o lucro e aí, o cliente parar e querer ver um pouco mais sobre o serviço que está sendo oferecido”, disse.

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