Universidades lideram projeto para criar IA que prevê ação de medicamentos

A tecnologia analisa a interação do fármaco com proteínas relacionadas a determinadas doenças

Minas Gerais –A Universidade Federal de Alfenas (Unifal -MG), instituição vinculada ao Ministério da Educação (MEC), está liderando um grupo internacional de cientistas no desenvolvimento de um programa de inteligência artificial (IA) que prevê a ação de medicamentos no organismo de pacientes com patologias. Os fármacos ainda estão sendo desenvolvidos. A Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), também vinculada à Pasta, integra o estudo. A ferramenta se chama Sandres e já está disponível na internet.

(Foto: AndersonPiza / Envato)

A partir do uso de técnicas de aprendizado de máquina, a tecnologia analisa a interação do fármaco com proteínas relacionadas a determinadas doenças. O projeto é coordenado por Walter de Azevedo Jr. e Nelson da Silveira, pesquisadores do Instituto de Ciências Exatas ( Icex ) da Unifal-MG . Seis países e diversas instituições de pesquisa estão envolvidos na iniciativa , que recebe apoio financeiro de agências de fomento — como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do MEC — e de outros países , como os Estados Unidos, a Rússia e a Argentina.

Azevedo Jr . explicou que a análise guiada por IA indica o potencial farmacológico dos medicamentos sem necessitar , inicialmente, de testes em seres humanos . “O principal benefício é a capacidade de integrar uma ferramenta moderna e atual no processo de busca de novos fármacos”, destacou . “Não é nosso objetivo buscar novos fármacos, mas a nossa ferramenta foi construída e validada para que grupos de pesquisa interdisciplinares a usem para esse propósito . ”

Qualquer pesquisador da área de IA ou de descoberta de fármacos está habilitado a usar o programa, desde que tenha proficiência em inglês. “Acabamos de assinar um contrato com a editora Springer Nature para o lançamento de um livro-texto em inglês no ano de 2025 focado na explicação da nossa ferramenta”, anunciou . A publicação contará com explicações do grupo de pesquisa sobre todas as funcionalidades do programa e como usá-lo.

A ferramenta é de acesso aberto, o que amplia a facilidade de uso e o livre acesso ao código. “O fato de termos o código de acesso aberto facilita o engajamento de uma equipe multidisciplinar e internacional no aprimoramento do programa”, Azevedo Jr. explicou . O projeto é resultado de três décadas de pesquisas , que culminaram n a geração de dados e no desenvolvimento do código.

O pesquisador contou que, inicialmente, o grupo estava focado em gerar dados biológicos, mas “ agora, com a grande disponibilidade de dados biológicos e farmacológicos, o programa de IA tem o material necessário para ‘aprender’ e gerar modelos de predição confiáveis”.

Interdisciplinaridade – Azevedo Jr. chamou a atenção também para a interdisciplinaridade do projeto e a participação de estudantes de graduação e pós-graduação na pesquisa. “O programa de IA está sendo usado em disciplinas da graduação e da pós-graduação da Unifal -MG, numa abordagem de educar pela ciência, em que os estudantes são trazidos para o ambiente de produção de conhecimento científico desde a graduação, integrando os conteúdos acadêmicos das disciplinas com pesquisa científica de ponta, interdisciplinar e de impacto”, ressaltou .

Estudo internacional – Além da Unifal-MG e da UFCSPA , participam do estudo a Universidade de São Paulo (USP ) ; a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul ( PUCRS ) ; a Universidad Nacional de Córdoba , da Argentina ; a Western Michigan University , dos Estados Unidos ; a Università di Palermo , da Itália ; o Institute of Biomedical Chemistry , da Rússia ; e a Université de Reims Champagne-Ardenne , da França

Parte dos pesquisadores estrangeiros participaram como professores convidados da disciplina de Aprendizado de Máquina , ministrada no primeiro semestre de 2024 na Unifal -MG . Segundo Azevedo Jr, “essa pesquisa é um bom exemplo de internacionalização e integração dos nossos estudantes num ambiente multinacional de desenvolvimento do conhecimento científico” .