São Paulo – Líder em campo, líder fora dele. O atacante Samuel Eto’o, estrela maior da seleção de Camarões, chegou ao Brasil para disputar a Copa do Mundo enquanto jornais de seu país o chamam de traidor, por ser também o principal articulador do movimento que quase deixou os camaroneses fora da Copa.
Uma briga entre os jogadores, a Federação Camaronesa de Futebol (Fecafoot) e o governo instalou-se quando os atletas exigiram um aumento de US$ 12 mil por pessoa no prêmio pago para participação no Mundial. Eto’o liderou o movimento.
A tensão chegou a ponto de impedir o embarque dos jogadores para o Brasil, no domingo. A equipe se recusou a entrar no avião e, por fim, a Federação e o governo cederam à reivindicação, concederam o aumento no pagamento e, com 12 horas de atraso, o time seguiu viagem.
Eto’o é a maior esperança de sucesso dos camaroneses em um grupo considerado difícil pelo técnico da equipe, o alemão Volker Finke. Como estrela, o jogador quase não fala à imprensa, rejeita pedidos de entrevista e, no fim do treino de ontem, deixou a Arena das Dunas antes de todo o resto do grupo.
Nas últimas semanas, o gesto mais relaxado dele foi quase uma piada de torcedor. Perguntado, enquanto corria na praia, em Vitória (ES), a respeito de qual é o melhor jogador da atualidade, recusou as alternativas oferecidas (ele ou Messi) e repetiu o canto entoado pela torcida do Flamengo anos atrás: “Obina!”.
Torcida rival
A “invasão mexicana” em Natal não chega, em números, perto da famosa “invasão corintiana” ao Rio, em 1976. Mas o barulho faz a presença da torcida ter efeito semelhante na cidade.
Milhares de torcedores estão na capital potiguar para apoiar a seleção na partida contra Camarões. O número é tão expressivo que o Consulado do México no Rio decidiu montar um posto avançado itinerante na cidade para dar conta da demanda. A diplomacia mexicana estima que entre 12 mil e 15 mil torcedores do país estão em Natal para acompanhar a partida.
Rafael Adame é um deles. Viajando com outros seis colegas, o comerciante de 55 anos ainda verá as outras duas partidas da primeira fase, contra Brasil e Croácia. Com camisa e chapéu do México, Adame foi ontem à Fan Fest da Fifa, na Praia do Forte, para acompanhar o jogo entre Brasil e seus futuros adversários. O prognóstico para o jogo de hoje contra Camarões é cauteloso: “Será um jogo muito difícil. Mas vamos ganhar por 1 a 0”.
Mexicanos continuam a fazer festa nas praias e bares da cidade. Alguns tentaram entrar na Arena das Dunas para acompanhar o treino da seleção de Miguel Herrera ontem, mas foram impedidos pela segurança. Não houve confusão.