Francesa acorda com sotaque britânico após cirurgia e intriga especialistas

Síndrome rara transforma fala de paciente que vive com alteração há mais de uma década

França- Laetitia, uma mulher de 47 anos residente na região de Sarthe, na França, passou por uma cirurgia de amígdalas em 2014 e, ao despertar da anestesia, percebeu algo inesperado: estava falando com um forte sotaque britânico.

(Foto: Reprodução de vídeo/Instagram/actu.fr_officiel)

O episódio, inicialmente encarado com surpresa, revelou-se um caso raro da chamada “síndrome do sotaque estrangeiro”.

Apesar de ter consultado o cirurgião imediatamente após a operação, Laetitia não recebeu nenhum alerta preocupante. Nos meses seguintes, exames não apontaram alterações físicas, mas o sotaque permaneceu. Um médico, inclusive, afirmou que ela era “um mistério para a ciência” antes de se aposentar.

O choque maior veio para a família de Laetitia, que vive em outra região e pensou que o novo jeito de falar fosse uma brincadeira. Mas o quadro é real e raro. A síndrome do sotaque estrangeiro costuma surgir após traumas cranianos ou lesões cerebrais, o que não ocorreu no caso dela, que estava apenas anestesiada.

Especialistas acreditam que, durante a anestesia, pode ter havido uma leve alteração na irrigação de uma área específica do cérebro. Mesmo após consultas com fonoaudiólogos e otorrinolaringologistas, Laetitia foi informada de que não havia tratamento viável para seu caso.

Com o tempo, ela passou a aceitar sua nova forma de falar e afirma que o sotaque já faz parte de sua identidade. Ainda assim, relata dificuldades na pronúncia de certas palavras.

 

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Situações do dia a dia também foram afetadas: sua cadela, Vadrouille, parece não reconhecer comandos dados com o novo sotaque. Laetitia encara tudo com bom humor e diz que ainda ouve “sua voz antiga” dentro da cabeça, embora não consiga reproduzi-la.

Curiosamente, o novo sotaque não veio acompanhado de maior fluência na língua inglesa. Ela mantém apenas os conhecimentos básicos adquiridos na escola. Em interações sociais, costuma avisar que é francesa e explicar a condição apenas quando o interlocutor demonstra interesse.

Casos como o de Laetitia são extremamente raros — há cerca de 50 registros conhecidos no mundo. Um dos primeiros foi identificado nos anos 1940, quando uma norueguesa passou a falar com sotaque alemão após ser atingida por estilhaços de bomba durante a guerra. Em outro episódio semelhante, uma americana acordou de uma cirurgia em 2011 com sotaque da Europa Oriental.