Itália – Os moradores de Belcastro, uma pequena cidade no sul da Itália, começaram o ano com uma restrição municipal bastante incomum. Eles foram proibidos de ficar doentes.
A medida foi anunciada em uma portaria publicada na última semana pelo prefeito, Antonio Torchia. O documento instrui a população a evitar contrair qualquer doença, a não se envolver em acidentes e muito menos correr riscos que possam prejudicar a saúde.
Em vez de tudo isso, os pouco mais de 1.200 moradores foram aconselhados a ficar em casa o máximo possível. A orientação é evitar sair até mesmo para praticar esportes.
A medida inusitada, porém, é apenas simbólica, “A portaria que emiti representa obviamente uma provocação irônica”, disse o prefeito em entrevista ao jornal italiano La Repubblica.
A ideia, segundo o prefeito, é chamar atenção para a falta de acesso a serviços de saúde adequados na cidade, que possui uma única clínica médica, “frequentemente fechada”, e que não dispõe de atendimento de emergência à noite e aos feriados.
“Isto não é apenas uma provocação”, disse ao jornal Corriere della Calabria. “O decreto é um pedido de ajuda, uma forma de chamar a atenção para uma situação inaceitável. Somos um município pequeno, mas os cidadãos não valem menos que os das grandes cidades”.
A maioria dos moradores de Belcastro é idosa, grupo mais vulnerável a emergências médicas. Mas o hospital mais próximo ao qual eles podem acessar fica a 45 quilômetros de distância, na cidade de Catanzaro.
“Devo dizer que [a portaria] está surtindo mais efeito do que as dezenas de e-mails que enviei até agora à autoridade sanitária provincial para denunciar as deficiências do serviço de saúde”, afirmou Torchia.
Falta de médicos
A região da Calábria, onde fica Belcastro, é escassamente povoada e uma das mais pobres da Itália. A partir de 2009, a região começou a enfrentar um processo de fechamento de hospitais e unidades de saúde, parte de um plano de reestruturação que visava reduzir custos e otimizar os serviços, segundo o La Reppublica.
Até 2020, 18 hospitais foram fechados na Calábria, o que agravou a situação, especialmente nas áreas rurais e nas pequenas cidades. Hoje, há cerca de 1.700 clínicos gerais na região para uma população de quase dois milhões, de acordo com os últimos dados do governo.
A escassez de assistência médica leva cerca de 20% da população local a buscar atendimento em outras partes do país, segundo o governo italiano. “Se não prestarmos serviços essenciais, estas cidades, estas aldeias, morrerão dentro de dez anos”, disse Torchia.