Saiba quem foi Ruth Ellis, a última mulher executada no Reino Unido

Condenada por um crime movido pela dor e pela violência, Ruth Ellis acabou deixando um legado que ajudou a mudar o sistema judicial

Reino Unido- Em julho de 1955, Ruth Charlotte Ellis entrou para a História de uma forma trágica: tornou-se a última mulher executada no Reino Unido. Seu caso gerou debates intensos e é considerado até hoje um reflexo de um sistema judicial influenciado por gênero e moralismo.

(Foto: Reprodução/Youtube)

Nascida em 1926 no País de Gales, Ruth teve uma infância marcada por dificuldades. Seu pai, músico itinerante, levava a família de cidade em cidade em busca de trabalho, enquanto escondia um segredo sombrio: abusava sexualmente de Ruth e sua irmã, Muriel, com quem teve um filho. Na adolescência, Ruth fugiu de casa e tentou construir sua independência em Londres, trabalhando como garçonete. Aos 17 anos, engravidou de um soldado canadense casado e passou a criar o filho sozinha. Sem muitas opções, encontrou sustento no mundo da prostituição e do álcool.

Nos anos 1950, Ruth casou-se com um cliente regular de um clube londrino, George Johnston Ellis. A relação foi turbulenta e, após dar à luz uma menina, viu-se abandonada pelo marido, que questionava a paternidade da criança. Sem outra alternativa, colocou a filha para adoção e voltou a se prostituir.

Foi nesse período que conheceu David Blakely, um piloto de corridas e playboy da alta sociedade londrina. O relacionamento, apesar da paixão inicial, se revelou um ciclo de violência e traições. Ruth, que trabalhava como promotora de boate, frequentemente era agredida por David, especialmente quando ele bebia. Em uma dessas agressões, sofreu um aborto. Em meio a essa turbulência, passou a se envolver com Desmond Cussen, um piloto da Força Aérea Britânica que lhe oferecia proteção.

A tensão entre Ruth e David culminou no fatídico dia do crime. Movida por uma mistura de dor e revolta, ela foi até um pub onde David estava e disparou seis tiros contra ele. Em vez de fugir, permaneceu no local até ser presa por um policial que estava de folga.

Durante o julgamento, Ruth confessou sua intenção de matar David. No entanto, o tribunal ignorou o histórico de violência doméstica que ela havia sofrido e desconsiderou a possibilidade de uma condenação mais branda. A prostituição e o comportamento considerado inapropriado para uma mulher da época pesaram contra ela, tornando sua sentença praticamente inevitável. Suspeitas surgiram sobre o papel de Desmond Cussen no crime, mas nada foi investigado a fundo.

Sem que houvesse espaço para recursos, Ruth foi executada por enforcamento na prisão de Holloway. Sua morte provocou forte comoção e contribuiu para as discussões que, anos depois, levariam à abolição da pena de morte no Reino Unido.

Décadas mais tarde, a família de Ruth ainda luta para reabrir o caso. Seu neto, Stephen Beard, defende que, se a Justiça tivesse considerado as agressões que ela sofreu, o desfecho poderia ter sido diferente. Em 2003, uma tentativa de reverter a condenação foi rejeitada pelo tribunal, que manteve a decisão original baseada na legislação da época.