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O público assistirá a montagem em meio a uma série de escombros (Foto: Divulgação/Fabiele Vieira)
Manaus – Quando a Companhia Ateliê 23 passou a ter mais ‘intimidade’, por assim dizer, com o trabalho do filósofo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017), as relações líquidas das quais ele tanto falou, em vida, tornaram-se pano de fundo para o espetáculo ‘Sobre a Adorável Sensação de Sermos Inúteis’, que estreia no dia 1º de julho, na sede da própria companhia, localizada na Rua Tapajós, 166, Centro, a partir das 20h.
Segundo o diretor da montagem, Taciano Soares, o espetáculo está sendo trabalhado há dois anos. “O conceito de relações líquidas mostra como nos tornamos fluidos e voláteis quando lidamos com escolhas contemporâneas, muito disso por conta do nosso cotidiano corrido e a internet. Ao estudarmos o assunto, chegamos ao abandono como um todo. Abandono do outro, de si mesmo, do material”, explica.
E foi aí que esse tal afastamento tornou-se tema de dois workshops realizados anteriormente pela companhia e que serviram de base para a montagem do ‘Inúteis’. “Em um primeiro momento, fomos às ruas saber sobre histórias de abandono. Ouvimos muitas coisas ligadas ao amor entre casais, mas também chegamos ao autoabandono, às relações abusivas e aos filhos abandonados por mães, por exemplo, e decidimos criar duas cenas ‘inúteis’”, relembra Soares.
A primeira foi construída com cenas curtas sobre o tema e que exigiam do público aquilo que, no teatro, chamam de escrita automática — cenas são apresentadas e o espectador tem que escrever qual a sensação diante daquilo que está vendo. E, logo em seguida, outra mostra foi apresentada, na qual o público também era usado como ‘cobaia’.
“Desde a criação da Ateliê 23, prezamos em trabalhar com o Teatro Surreal, em dialogar com o público experiências reais, a partir de pesquisas reais. O que os espectadores verão em ‘Inúteis’ são quatro atores que falam de assuntos reais, de vivências reais e busca tirar o ser humano de sua zona de conforto”, esclarece. Vale ressaltar que, para a montagem, foram demolidas cinco salas e os escombros foram preservados para compor o cenário, pois, para Soares, todos contamos com “escombros emocionais”.
A peça, que conta com os atores Eric Lima, Isabela Catão, Jean Palladino e Joice Caster, ficará em cartaz durante todo o mês de julho, às sextas e sábados, sempre às 19h. “Fomos acostumados a uma visão muito lúdica de teatro, mas ele também pode falar do cotidiano, mostrando a verdade nua e crua, construída por meio da mistura da ficção e da realidade. Esse movimento é que nos mantêm vivos: um dia somos vilões e, no outro, somos mocinhos, é essa inércia que faz com que o público saia da sua zona de conforto”, finaliza.