Manaus – Identidade e autenticidade, qualidades marcantes da artista plástica e empreendedora indígena, We’e’ena Tikuna, 32, que levou sua marca para as passarelas da moda, em São Paulo. Agora, trabalha com confecções de lúdicas bonecas em homenagem a sua nação, os Tikuna, do Alto Solimões, com objetivo de ensinar crianças a ter contato com a diversidade.
We’e’ena Tikuna lançou as bonecas no ano passado, com os grafismos corporais que representam os animais e são feitas manualmente, com algodão cru e fibra vegetal, que é retirada do pé do tururi. E são vendidas apenas em alguns períodos, por conta do tempo da confecção.
“Elas representam a força e a garra dos povos indígenas. Cada uma delas, leva uma simbologia e são batizadas com nomes nativos mesmo. Quando a pessoa adquire a boneca, recebe uma certidão, que explica tudo sobre ela”, detalha We’e’ena.
A indígena, que também realiza palestras em escolas, percebeu que as crianças tinham pouco conhecimento sobre os povos indígenas e resolveu unir arte e o fortalecimento da causa indígena, por meio de das bonecas.
“Eu vi que pais podem educar seus filhos ensinando sobre a cultura indígena para educação, porque o respeito vem de berço. Nas escolas que passei, vi que as crianças tinham medo por não saber a história, porque nossa história não é contada por nós, é contada por terceiros. Então, em toda história, o indígena mata, ele é mau”, afirmou a empreendedora.
Hoje, a artista plástica busca incentivar a educação básica todos os dias, para crianças, jovens e adultos, por meio das suas criações. A intenção é marcar as próximas gerações.
Eco Fashion Week
We’e’ena Tikuna é formada em Artes Plásticas pelo Instituto de Dirson Costa de Arte e Cultura da Amazônia e, durante a academia, quis mostrar às pessoas que os povos indígenas ainda mantém seus costumes, rituais e tradições. Com isso, passou a fazer suas próprias roupas e não demorou muito tempo, obteve o reconhecimento pelo trabalho.
“Aí que surgiu minha marca, leva meu próprio nome porque por muito tempo, nós, os povos indígenas, fomos tutelados por terceiros. O indígena nunca tinha voz, tudo isso porque a gente não falava a língua portuguesa, a gente não sabia qual eram os nossos direitos. Hoje, o indígena do Século 21, está muito atuante na mídia e nas redes sociais”, destacou.
Em 2019, após ser selecionada, participou do Brasil Eco Fashion Week (BEFW), evento que promove boas práticas de sustentabilidade e moda brasileira, reunindo vários conteúdos. Para We’e’ena, foi a realização de sonho. Em 2020, ela também participou do desfile virtual.
“Pra mim foi um desafio muito grande e foram 20 looks. Eles gostaram da minha coleção e da minha identidade. Foi o primeiro desfile indígena projetado por uma nativa. Foi um sonho. Foi uma quebra de preconceito”, contou a empreendedora.