Manaus – No dia 17 de fevereiro de 1915, uma Terça-Feira de Carnaval, Manaus passou por um dos momentos mais marcantes que abalou a sociedade da época. A jovem Ária Paraense Ramos, 18, foi assassinada com um tiro enquanto tocava seu violino no Ideal Clube. A controversa história da morte, que ultrapassa gerações, ganhará, em 2024, uma versão curta-metragem assinada pelo diretor Cleinaldo Marinho, batizada de “Ária – Fazendo a Vida Viver”.
De acordo com Marinho, seu primeiro contato com a história de Ária Ramos ocorreu no início dos anos 2000, em uma roda de amigos artistas. “A partir daí, comecei a fazer uma vasta pesquisa, o que me motivou a pensar em um projeto cinematográfico. De lá para cá, obtive relatos de várias versões da mesma história, sendo ela contada de maneiras diferentes”, comenta ele, adiantando que o filme não será uma biografia da violinista, mas sim o fio condutor para mostrar o contexto no qual a vida e morte de Ária circunda.
O roteiro, que está pronto desde 2007, busca reviver essa memória popular e como ela se transformou ao longo dos anos, proporcionando uma percepção do quanto ela foi se tornando emblemática diante da personagem. “Quero mostrar o contexto no qual a Ária estava inserida, já que ela nasceu em 12 de agosto de 1896, quatro meses antes do Teatro Amazonas ser inaugurado. No auge do ciclo da borracha, e morre em seu declínio. Então, esse momento é incrível e crucial para que o filme aconteça. Uma artista, mas que não se rendia aos preconceitos e regras daquela época”, salienta.
Segundo os inúmeros relatos obtidos pelo diretor, Ária morreu vítima de um tiro, no momento em que se apresentava com a valsa “Subindo ao Céu”, ao que tudo indica do pianista Aristides Manuel Borges. Alguns dizem que se tratou de “um tiro de amor” em decorrência de um suposto triângulo amoroso. Outros dizem que foi algo acidental. Essa memória popular deu a devida importância aos recortes, fazendo deles algo relevante para a criação artística do filme.
“São recortes dos muitos relatos, descrições e informações em relação aos fatos utilizados pelos jornais da época e, até mesmo nos dias atuais, transformando Ária Ramos em um rito de mistérios que perduram na memória da composição da cidade”, reforça o diretor.
A obra é uma homenagem às mulheres que lutam diariamente por sua liberdade e autenticidade, para a mulher artista, para “mulheres que, assim como Ária, desdobram-se em batalhas diárias para viver suas vidas de acordo com seus próprios termos”. “Que as cenas que serão criadas possam contribuir com cada mulher na resiliência dos seus caminhos, e enaltecer a busca incansável para viver plenamente, rompendo as amarras que as cerceiam, portanto vamos fazer em um filme de época, mas altamente atual”, explica Marinho.
As filmagens iniciarão na primeira quinzena de maio, e irão ocorrer em locais históricos de Manaus, tais como o Teatro Amazonas, o Hospital Santa Casa de Misericórdia, a Rua Bernardo Ramos e o Palácio da Justiça. “Já os testes para a escolha de elenco serão realizados nos dias 2 e 3 de março”, finaliza ele.
A produção, que foi contemplada pela Lei Paulo Gustavo, tem o apoio do Governo do Estado do Amazonas, Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa, Ministério da Cultura e Governo Federal.