Parintins- O amor que move os torcedores dos bois Caprichoso e Garantido é uma tradição que tem mais de 100 anos. Ao longo desse período, os amantes dos bumbás transbordam o sentimento de várias formas. Uma delas é a não utilizar cor do boi “contrário” em nenhuma hipótese ou guardar uma toalha de rosto utilizada pelo levantador da sua agremiação favorita.
Morando há quase cinquenta anos na casa de número 1913 da Avenida Amazonas, ano de fundação do boi Caprichoso, a aposentada Ana Maria Azedo, 66, é uma torcedora apaixonada pelo boi da estrela na testa. Ana conta que sua primeira memória do boi azul e branco é de quando tinha oito anos de idade e visitava seu tio que morava perto do curral Zeca Xibelão, sede da agremiação.
“Enquanto meu pai entrava para fazer a visita, eu corria para lá [curral], para ir olhar o ensaio do Boi. Então por isso que eu digo assim: desde criança eu brinco em boi no Caprichoso. Eu amo esse boi, ninguém gosta mais desse boi do que eu”, explica a aposentada que tem sua casa pintada nas cores azul e branca e afirma que a cor vermelha não entra em sua casa.
“Amo a cor azul. Não gosto de vermelho. Vermelho para mim nem tomate entra aqui. Olha que eu sou Flamengo, mas não uso a cor vermelha”, conta Ana, que há mais de 30 anos também faz parte da marujada do boi da estrela na testa. Ana explica o que acontece se chegar alguém de vermelho na sua casa. “É do portão para fora”.
Do lado vermelho, a empreendedora Delma Góes, 58, explica que a única peça azul em sua casa é o manto da santa de quem é devota. “Nossa Senhora das Graças não pode ficar sem o manto dela, mas é porque ela é consagrada com este manto azul, mas ela sabe que dentro dela ela vê aqui só gente do Garantido e ela entende”, explica.
Delma descreve o que sente pelo boi do coração. “O Garantido para mim é o boi de pano, mas é algo muito maravilhoso que aconteceu na minha vida. O que for preciso eu faço pelo Garantido. Tenho a toalha que o Sabá me deu, que está ainda sujinha do rostinho dele. Tenho camisa do Israel”, detalha a torcedora que também guarda objetos entregues pelos itens.
Apesar de torcerem por bois diferentes, as torcedoras comungam do mesmo sentimento: “A rivalidade é lá na arena. Fora da arena, nós somos amigos”, ressalta Ana. “Os dois bois se completam. A gente tem rivalidade, mas se não tiver os dois não existe Festival”, acrescenta Delma.