Manaus – Durante sessão na Assembleia Legislativa do Amazonas (ALE), nesta segunda-feira (23), o deputado estadual Daniel Almeida (Avante), irmão do prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), minimizou a gravidade do buraco que causou o acidente fatal da biomédica Giovana Ribeiro da Silva, 29, grávida de sete meses. O pronunciamento gerou indignação entre parlamentares e foi recebido com vaias no plenário.

(Foto: Montagem D24AM)

Giovana trafegava de moto com o marido pela movimentada avenida Djalma Batista, na zona centro-sul, quando o veículo colidiu com um buraco na pista. Ela foi arremessada contra uma árvore no canteiro central.

Mesmo após tentativas de reanimação pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), a jovem, que esperava um bebê, não resistiu e morreu no local junto com a filha que se chamaria Maria Carolina.

Parlamentares se manifestram de forma crítica à gestão municipal e às condições das vias públicas de Manaus. O deputado Delegado Péricles (PL) afirmou que a tragédia era uma “morte anunciada”.

“A população de Manaus fala diariamente dos buracos que se encontram na sua rua, no seu bairro, nas principais vias de Manaus. E a gente vê se gastando centenas de milhões por um tal de programa ‘tapa-buraco’ e efetivamente a gente não vê as ruas sendo asfaltadas. O que se faz é maquiagem, como a gente viu há pouco na Avenida do Turismo, de um asfalto que já estava bom e só fizeram passar outro por cima, sem necessidade nenhuma. […] Infelizmente uma tragédia anunciada aconteceu ontem. Não era para se fazer propaganda porque a obrigação mínima do poder municipal é cuidar da base, deixar as ruas em condições”, disse.

“Convido os colegas deputados a investigar como foram empregados os R$ 181 milhões destinados pelo Governo do Estado à Prefeitura de Manaus para o Asfalta Manaus. Porque o que estamos vendo é um verdadeiro descaso com a vida da população”, disparou Delegado Péricles.

Péricles ressaltou que a morte da biomédica soma-se a dezenas de acidentes diários causados pelas péssimas condições das ruas de Manaus e reforçou a urgência de uma investigação séria e profunda sobre os recursos destinados à pavimentação da cidade.

“O que aconteceu com a Giovana e a pequena Maria Carolina, que sequer teve a chance de nascer, é o retrato cruel da falta de responsabilidade do Executivo Municipal com a vida humana. Manaus está manchada de sangue por conta da omissão e da incompetência administrativa. Esse não é um caso isolado. É o resultado de anos de abandono e obras feitas apenas para inglês ver”, criticou Péricles.

O discurso provocou um intenso debate entre os parlamentares e aumentou a pressão para que a Assembleia avance na formalização da CPI do Asfalto.

O deputado e presidente da ALE, Roberto Cidade (União Brasil), também criticou a falta de cuidado em vias centrais da cidade.

“Há dois anos teve o convênio do Asfalta Manaus, onde a prefeitura recebeu recursos do governo do Estado, e hoje a gente vê no noticiário que uma mãe perdeu a vida e uma criança veio a óbito. Ninguém queria que isso acontecesse, mas poderia ter sido evitado. A Djalma Batista deveria estar de forma impecável, asfaltada. Por causa de um buraco essas pessoas perderam a vida. Tem locais em que a gente não pode falhar.”

A morte de Giovanna e de sua filha gerou um debate sobre a precariedade da infraestrutura nas ruas de Manaus. Porém, Daniel Almeida tentou minimizar o caso ao afirmar que “estão querendo fazer um alarde” por causa de um buraco.

“A gente lamenta a morte de uma mãe grávida de 8 meses. Isso é muito triste. Me solidarizo com a família, mas também gostaria de me solidarizar com as milhares de famílias que estão morrendo no hospital e não vejo o presidente da Casa se manifestar. Estão querendo fazer um alarde. Claro que precisamos nos solidarizar com a vida, mas a prefeitura que mais asfaltou em todos os tempos foi a do prefeito David Almeida. O tapa-buraco é com verbas da prefeitura, recursos próprios. O governo não investiu. […] Nunca vi a cidade de Manaus tão asfaltada como hoje. Infelizmente foi um acidente que aconteceu, nós lamentamos as vítimas”, afirmou Daniel.

Em tom exaltado, o parlamentar atacou colegas que criticavam a atual gestão de seu irmão David Almeida, mas não se manifestavam sobre saúde e segurando de responsabilidade do Governo do Amazonas.

“Cadê a moral dessa Casa para falar de um buraco em uma avenida que está toda asfaltada? Tem um buraco, a família morreu, e aí vocês se levantam aqui para falar do prefeito David Almeida, que é o melhor prefeito dessa cidade, e passam pano pro governador. É um absurdo o senhor presidente se levantar para fazer alarde por causa de um buraco, um acidente que aconteceu. Isso é um absurdo”, disse Daniel Almeida, sendo vaiado no plenário.

A fala causou indignação e uma acalorada discussão com o presidente da ALE, deputado Roberto Cidade (UB), que respondeu: “Você está perdendo a postura. Você não aponte o dedo para mim porque você tem que respeitar.”

A sessão precisou ser interrompida pela deputada Débora Menezes (PL), que cortou os microfones após o clima esquentar.

Delegado Péricles rebateu Daniel Almeida e reforçou que “o tema que estava sendo abordado na sessão era em relação ao buraco”.

“A Djalma Batista não está toda asfaltada, não, porque tem vários buracos. Assim como várias ruas de Manaus estão cheias de buracos. Talvez, como sou daqui, nós nunca vimos Manaus tão esburacada quanto agora. E a população sabe disso. Agora essa conversinha de marqueteiro ‘ah, não, Manaus está toda asfaltada’, isso é mentira. A prefeitura não asfaltou Manaus. Na campanha, o prefeito disse que tinha asfaltado 3 mil [ruas] e até dezembro ia concluir as 10 mil ruas prometidas, e não fez”, disse.

Conforme os parlamentares, a morte de Giovana e de sua bebê reforça a situação que já vinha sendo alertada pela população que é a precariedade das ruas de Manaus.

A familia de Giovana Ribeiro se manifetsou por meio de uma nota de repúdio diante das falas do irmão de David Almeida.