Manaus – O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, participou nesta quarta-feira, (27), de uma reunião virtual promovida pela Frente Nacional de Prefeitos (FNP), para debater ações de enfrentamento ao novo coronavírus e estratégias para amenizar as crises sanitária, financeira e social. Também participaram Francis Xavier Suarez, prefeito de Miami, e o vice-prefeito de Segurança Pública de Los Angeles, Jeff Gorrell. O debate foi mediado pelo Prefeito de Vitória (ES), Luciano Rezende.
Entre os temas principais da pauta estavam as regras de isolamento social, medidas de contenção do vírus, retomada das atividades pós-isolamento social e coesão entre os entes. O prefeito de Manaus criticou a ideia do governo do Amazonas em reabrir o comércio no dia 1º de junho, e disse que os governantes têm que andar juntos, em uma mesma direção, pois só assim o vírus pode ser combatido de forma eficaz.
Isolamento social
O prefeito de Miami, Francis Xavier Suarez, disse que foi um dos primeiros a serem infectados pelo novo coronavírus na cidade norte-americana, e apontou que o isolamento social foi fundamental para que a curva relacionada ao vírus fosse achatada de 45 mil casos para 14 casos por dia. “Semana passada abrimos 50% das lojas, e nesta quarta (27), os restaurantes foram abertos. Para reabrir tivemos que manter o distanciamento social para que tudo se desenvolva de forma positiva daqui pra frente”, disse Suarez.
Jeff Gorrell, vice-prefeito de Segurança Pública de Los Angeles, relatou que o município americano é um grande destino turístico e que muitas pessoas chegam ao local pelo aeroporto, além de uma alta frequência de navios pelo porto. “Nós temos muitos turistas asiáticos. O prefeito teve que tomar medidas drásticas de isolamento social, não foi fácil fazer isso. No dia 20 de março, o comércio foi fechado, as escolas também e as pessoas tiveram que ficar em casa. Tivemos que tomar medidas para criar uma cultura de isolamento. O comércio vai reabrir aos poucos, mas pedimos que não mudem a cultura de isolamento, e que as pessoas que puderem continuem trabalhando em home office. E quem tiver que sair, que crie uma barreira de distanciamento”, relatou Gorrell.
O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, criticou o governador do Amazonas, Wilson Lima, por ter divulgado a reabertura do comércio da capital Manaus para o dia 1º de junho. “Agora temos uma contradição. O número de mortes por Covid-19, diminui, é uma coisa óbvia. Mas o número de casos aumenta a cada dia. E o governador propõe uma abertura para o dia 1º de junho. Eu considero isso prematuro, pois não fizemos uma boa estrutura de preparação para lograrmos êxito nesse episódio. Eu diria que Manaus, se fosse uma realidade isolada, estaria controlada, mas não. O interior do Amazonas é desvalido, praticamente não tem assistência médica conveniente. E tem as populações tradicionais, populações indígenas que correm efetivo perigo. Então eu temo que se aprofunde a crise no interior do Estado e entre os povos indígenas, como temo que aqui em Manaus nós soframos uma segunda onda, que poderia ser muito mais grave do que a primeira”, disse o prefeito de Manaus.
Reabertura
O prefeito de Miami comentou que as restrições passo a passo são mais duras que as implementadas de uma só vez. Para a saída do isolamento, existem várias variáveis e diferentes riscos. “Você tem pessoas que estão isoladas há dois meses com alto nível de desespero. E tem pessoas que ficam olhando para trás, criticando, mas foram essas medidas que a gente tomou, que reagimos muito intensamente, que fizeram o vírus não se propagar. Se você mistura isso com eleições, fica um ambiente tóxico. A minha esperança é continuemos disciplinados para que não precisemos ter um lockdown, pois vai ser muito danoso para a nossa economia”, relatou Francis Suarez.
Jeff Gorrell mantém a mesma linha de pensamento e ressalta que o sucesso da retomada da economia depende da população. “O povo tem o poder para resolver essa situação, evitando aglomerações, usando máscara. O quanto antes a gente conseguir achatar a curva, vamos poder abrir o comércio. Enquanto as pessoas ficarem fazendo festas em casa e desrespeitando as regras, podemos voltar a uma restrição maior. As pessoas esquecem da gravidade. Se não conseguimos criar essa cultura, temos que voltar com restrições mais severas. As pessoas têm o poder de fazer a coisa certa pra voltar a uma normalidade”.
O prefeito de Vitória, que mediou o debate, ressaltou que algo parecido só havia acontecido com a gripe espanhola. “Essa doença leva ao colapso do sistema hospitalar. As pessoas têm que ficar internadas por 14 dias. Todos os lugares têm dificuldades e cada um tem a sua reponsabilidade. O vírus impacta na saúde e na economia. Temos que cuidar das duas coisas ao mesmo tempo”, afirmou Luciano Rezende.
O debate encerrou com uma fala do prefeito de Manaus. “No Amazonas temos duas realidades: a capital Manaus, que tem como se defender, já o interior não pode se defender. Não estou seguro de que estamos preparados para a reabertura. Não há empregos, as pessoas que trabalham podem sair para trabalhar e ficar doentes e o pico pode voltar e aumentar. Tomara que eu esteja errado e tomara que o governador esteja certo. Enfrentar uma pandemia como essa é um teste que deve marcar a vida de qualquer gestor”, finalizou Arthur Neto.