Brasília – Uma ala governista da CPMI do 8 de Janeiro tem resistido à ideia de convocar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para depor na comissão. Na avaliação de parte dos parlamentares que compõem a base do governo, um possível depoimento poria Bolsonaro sob os holofotes e poderia ajudar o ex-chefe do Executivo a emplacar a versão de que ele não teria relação com os atos extremistas.

(Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil)
A relatora da comissão, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), tem evitado cravar a possibilidade de um convite ou convocação de Bolsonaro. Em outras ocasiões, ela disse que o tema só seria posto em pauta caso houvesse materialidade para a ação.
Até o momento, só há um requerimento que sugere a oitiva do ex-presidente. Trata-se de um pedido de convite, o que significa que, caso o requerimento seja aprovado, Bolsonaro não tem obrigação de comparecer.
No entanto, na visão de parte da base governista, a melhor estratégia é fechar o cerco contra o ex-presidente, associando-o ao caso da venda ilegal de joias no exterior. Se ficar comprovado que as joias supostamente vendidas pelo ex-ajudante de ordens Mauro Cid ajudaram a financiar os atos golpistas, esse fato já seria suficiente para um possível indiciamento de Bolsonaro.
Outro braço de atuação dos governistas mira a associação de Bolsonaro com o hacker Walter Delgatti Neto. Em depoimento à comissão, o hacker afirmou que teve um encontro com o ex-presidente no Palácio da Alvorada em que foi levantada a hipótese de ele implantar um “código malicioso” em uma urna eletrônica fora das dependências do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para induzir os eleitores a duvidar da integridade do sistema.
De acordo com o hacker, durante o encontro, o então presidente da República também teria sugerido que ele auxiliasse técnicos do Ministério da Defesa a mostrar ao TSE fragilidades das urnas eletrônicas.
A falta de acordo entre governistas e oposição tem travado a pauta do colegiado. Nesta terça-feira (22), a reunião que votaria requerimentos com pedidos de quebra de sigilo foi cancelada por causa da divergência entre os dois grupos.
O acordo é necessário porque o presidente da CPMI, deputado Arthur Maia (União-BA), não tem publicado a pauta com antecedência. Com isso, a votação dos requerimentos de convocação de testemunhas ou de quebra de sigilos só pode ser feita por meio de conversa entre os membros da comissão. Assim, mesmo com maioria na CPMI, os governistas precisam acertar com a oposição.