Lula cobra coragem de sindicatos para fim da greve nas universidades federais

Ao falar da greve, Lula lembrou de suas origens como sindicalista. “Eu sou um dirigente sindical que nasceu no tudo ou nada. ‘É 100% ou nada’

Brasília – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ao movimento sindical o fim da greve nas universidades e institutos federais, no encerramento de encontro com reitores realizado nesta segunda (10), no Palácio do Planalto.

(Foto: Rafa Neddermeyer / Agência Brasil)

“A greve tem um tempo para começar e um tempo para terminar. O que não se pode permitir é que uma greve termine por inanição. Não pode, porque as pessoas ficam desmoralizadas. Então, o dirigente sindical tem que ter coragem de propor a greve, ter coragem de negociar, mas tem que ter coragem de tomar decisões, que muitas vezes não é o tudo ou nada que ele apregoou”, disse.

O presidente reservou o encerramento de sua fala ao apelo pelo fim de greve. Durante a reunião, os ministros Camilo Santana, da Educação, e Luciana Santos, da Ciência, Tecnologia e Inovação, haviam apresentado balanços dos recursos investidos no ensino superior público federal entre 2023 e 2024, e também anunciado novos investimentos da ordem de R$ 5, 5 bilhões na manutenção e ampliação das universidades e institutos federais. O próprio Lula, ao falar no encerramento do encontro, dedicou a maior parte de seu discurso a rememorar esforços feitos pelo Governo Federal para recompor o setor.

Ao falar da greve, Lula lembrou de suas origens como sindicalista. “Eu sou um dirigente sindical que nasceu no tudo ou nada. ‘É 100% ou nada’. E muitas vezes eu fiquei com nada”. Em seguida, disse acreditar que é hora de o movimento sindical dos docentes e trabalhadores das universidades e institutos federais fecharem com a proposta apresentada pelo governo.

“Nesse caso da Educação, vocês vão perceber que no conjunto da obra [da negociação] não há muita razão para essa greve estar durando o que está durando. Quem está perdendo não é o Lula, não é o reitor, quem está perdendo é o Brasil e o estudante brasileiro. Vamos ver os outros benefícios. Vocês já viram o que foi oferecido? Vocês conhecem? No Brasil está cheio de dirigente sindical corajoso para decretar greve, mas não tem coragem para acabar com a greve. O montante de recursos que a ministra Esther Dweck colocou à disposição é um montante não recusável”, disse. “Os alunos estão à espera de voltar para a sala de aula”.

O ministro Camilo Santana, sentado ao lado da ministra da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, cuja pasta é responsável pela negociação com os docentes e trabalhadores das universidades em greve, havia dito que o Governo Federal apresentou uma última proposta salarial que representa de 23% a 43% de aumento salarial, projetados até o final de 2026.

“Depois de seis anos sem reajuste algum, o nosso governo deu um aumento de 9% em 2023 e reabriu todas as mesas de negociação, com todas as categorias”, lembrou. “Na última proposta, a variação é de 23% a 43%, até 2026. Nós não podemos recompor anos de defasagem em pouco espaço de tempo.”

Segundo o ministro, o aumento salarial negociado no ano passado representa R$ 8 bilhões anuais do orçamento do MEC. A nova proposta – que não inclui reajuste em 2024, mas nos anos seguintes – soma mais R$ 10 bilhões. A proposta já feita aos docentes das universidades e institutos federais inclui também, com validade para 2024, reajuste nos valores de auxílio-creche, auxílio-alimentação e nos planos de saúde. Ainda de acordo com o ministro, haverá nova rodada de negociação com os técnicos e auxiliares de educação ocorrerá nesta terça-feira (11).

A reitora da Universidade de Brasília, Márcia Abrahão, falou durante o encontro como representante da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes). Ao comentar a greve, a reitora disse considerá-la justa e que o padrão salarial está “muito defasado”.

Márcia havia agradecido o governo pelos avanços recentes, especialmente se comparados ao período anterior. “Reconhecemos os investimentos em educação no seu governo”, falou, dirigindo-se a Lula. Depois de elogiar algumas das ações, pediu: “Esperamos que o Governo e os sindicatos cheguem nesta semana a uma solução negociada.”

Citando frase de Darcy Ribeiro, um dos idealizadores da UnB, que dizia que a crise na Educação não era um acaso, mas um projeto histórico das elites, a reitora contrapôs: “Este não é um projeto do atual governo”.