Manaus – Uma das ausências mais marcantes no lançamento da pré-candidatura à reeleição do prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), nesta segunda-feira (03) foi a do secretário de Limpeza Pública, o ex-deputado estadual Sebastião Reis, conhecido como Sabá Reis, um dos mais importantes apoiadores políticos e suspeito de receber propina do esquema de desvio de recursos em contratos com empresas de lixo da cidade.

(Foto: Montagem Ramon Arcanjo – GDC)
Interceptações telefônicas da PF, flagraram o empresário Carlos Edson de Oliveira Junior, sócio da Mamute Conservação, Construção e Pavimentação Ltda., então contratada da Semulsp falando em pagamentos ao secretário Sebastião Reis.
As imagens divulgadas do local do evento mostram que Sebastião Reis não esteve no palanque. David Almeida mantém o secretário no cargo, mais de 45 dias após a revelação do grampo comprometedor da Polícia Federal. E não se manifestou oficialmente sobre o caso e nem anunciou qualquer providência para apurar as denúncias investigadas pela Polícia Federal.
A única reação sobre o escândalo aconteceu na Câmara Municipal de Manaus (CMM), onde os vereadores Rodrigo Guedes e Willian Alemão tentam assinaturas dos colegas para a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar pagamentos indevidos a agentes públicos, como o secretário Sebastião Reis. “A CPI nos dá possibilidades de investigações que a gente não consegue fazer no no dia a dia, como requisitar documentos e até poderes próprios das autoridades judiciais”, disse Guedes.
Escândalo
As gravações feitas com autorização judicial, colocaram a gestão do prefeito David Almeida (Avante) no centro das investigações do esquema que apura sonegação fiscal, organização criminosa, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro com empresas contratadas pela Secretaria Municipal de Limpeza Pública (Semulsp).
As informações são parte dos argumentos da Polícia Federal no pedido de busca e apreensão, citados na decisão judicial que autorizou os mandados. O processo corre em segredo de Justiça. As interceptações telefônicas inseridas no processo apontam o secretário Sebastião Reis, o ‘Sabá Reis’, como beneficiário do esquema.
O nome ‘Dente de Marfim’ é uma alusão à empresa investigada, a Mamute. E foi realizada paralela à Operação Entulho, que investiga empresas que emitiram notas fiscais suspeitas de serem inidôneas, entre 2016 e 2021, no valor total de R$ 245 milhões, com sonegação fiscal estimada em mais de R$ 100 milhões em tributos.
De acordo com a Polícia Federal, as intercepções telefônicas apontam, “áudios comprometedores, inclusive com referência de entrega de valores ao secretário municipal”. E cita diretamente Sebastião Reis. O documento expõe “a ligação entre Carlos Edson e Sabá”, que “constitui uma pista assaz (suficientemente, bastante) inspiradora da ocorrência de outros crimes aliados à sonegação fiscal investigada”. E, ainda, que “os áudios revelam que Carlos se propõe a levar valores pessoalmente ao secretário, ou seja, valores em espécie”.
A autoridade policial relata que “durante o primeiro período de interceptação surgiram o indício de que o empresário estaria realizando o pagamento de vantagens indevidas ao então Secretário Municipal de Limpeza Pública senhor Sebastião da Silva Reis, Francisco Círilo e Silas Pedrosa são citados como “personagens novos”, por ingressarem nas investigações apenas depois do terceiro período de interceptações telefônicas por parte da PF. “Franciso Cirilo é pessoa do cenário político, filiado a partidos vinculados à gestão da prefeitura ao tempo da contratação da empresa Mamute”, diz o documento.
A análise da movimentação bancária revelou que tanto a empresa Mamute quanto seus sócios Carlos Edson Guedes de Oliveira Júnior e Alberto Sérgio Gonçalves Costa transacionaram com uma pessoa chamada Francisco Cirilo, empresário que recebeu R$ 70.000,00 da Mamute em 10/03/2017, e R$ 110.000,00 de Alberto Sérgio Gonçalves Costa. A empresa de Francisco Cirilo e Silas Pedrosa, a Nova Floresta, recebeu ao todo R$ 5,7 milhões, apontou a PF.
Segundo as investigações, a quebra de sigilo bancário autorizado pela Justiça demonstrou que, em 2020, o escritório de advocacia Sandoval & Sandoval Júnior Advogados Associados recebeu valores da Mamute e, em seguida, sacou parte do valor em espécie, “com indícios de encobrimento da trilha do dinheiro”. E, segundo a Polícia Federal, foi a partir da interceptação Carlos Edson Guedes de Oliveira Junior, sócio responsável da Mamute, que se obteve forte indício de que a empresa está realizando o pagamento de vantagem indevida ao atual Secretário Municipal de Limpeza Pública Sebastião Reis”.