Manaus – O dia 14 de janeiro de 2021 está marcado para sempre na memória dos amazonenses, que assistiu uma das maiores tragédias ocorridas durante a pandemia da Covid-19. O colapso com a falta sincronizada de oxigênio nos hospitais de Manaus forçou médicos a terem de escolher entre pacientes que tinham mais chances de sobrevivência para receber os insumos.

Paciente é reanimado no chão do Hospital 28 de Agosto após crise por falta de oxigênio (Foto: Divulgação)
Pacientes graves, internados em unidades de saúde da capital, não resistiram vieram a óbito. A crise de oxigênio no Estado, causada pela falta de gestão e planejamento, fez com que, de acordo com profissionais da saúde, pelo menos sete pessoas internadas em UTI morressem pela falta do gás. Na mesma data, a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-RCP/AM) registrou recorde no número de infectados pelo novo coronavírus, com 3.816 novos casos de Covid-19, totalizando 223.360 doentes no Estado.
De acordo com levantamento do site UOL, a època, neste dia, o Estado registrou o recorde de mortes por Covid-19 na pandemia: 159 em apenas 24 horas. Até então, o maior número tinha ocorrido no dia 12, com 113 mortes. Nos cinco dias antes da falta de oxigênio, o Amazonas havia registrado 500 mortes por Covid-19, ou em média cem por dia. Entre os dias 14 e 18, entretanto, esse número saltou para 706 óbitos —média de 141 por dia.
Alerta antecipado
O Sindicato dos Médicos do Amazonas (Simeam), já havia recebido informações dos profissionais de saúde sobre a falta de oxigênio nos hospitais do Amazonas e na época chegou a fazer um apelo às autoridades. “Transportar oxigênio de outros Estados em caráter de guerra é uma necessidade para se salvar vidas”, disse à éppoca, o presidente do sindicato, Mario Vianna.
A falta de oxigênio causou um colapso na saúde do Amazonas. Familiares de pacientes que estiveram no Serviço de Pronto Atendimento (SPA) e Policlínica Dr. José de Jesus Lins de Albuquerque, no bairro Redenção, zona centro-oeste, clamaram pelo envio de oxigênio à unidade. Uma mulher compartilhou um vídeo informando que muitas pessoas estavam morrendo.
O insumo demorou a chegar e ocasiou um corrida pela vida em empresas privadas e nos hospitais da capital.
Sem oxigênio, leito e falta de gestão na Saúde, até fevereiro de 2021, mais de 400 pacientes com Covid-19 já haviam sido transferidos de Manaus para hospitais universitários federais em outros Estados.

(Foto: Luzimar Bessa)

(Foto: Luzimar Bessa)
O site UOL informou ainda que, o salto fora da curva ocorrido no dia 14 foi completamente fora do padrão.
“Sem dúvida tivemos um impacto significativo da falta de oxigênio nesse número. Nós estávamos em uma curva de crescimento e a cada dia visualizávamos um número maior de óbitos. Mas o aumento verificado no dia 14, foi extremamente importante e acima do esperado”, afirmou o infectologista Bernardino Cláudio de Albuquerque, que é professor da Ufam (Universidade Federal do Amazonas) e pesquisador da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) Amazônia,
Após o dia 14, o número de hospitalizações passou a cair bastante. Segundo a fundação, em 14 de janeiro, 258 pessoas foram internadas em hospitais do estado.
No dia seguinte, despencou para 169 e, no dia 16, para 113.
“Depois que a bomba estourou, houve uma redução importante nas internações. As pessoas não procuraram mais as unidades de saúde com medo de morrerem lá dentro por falta de oxigênio. Isso é outra correlação importante: todo mundo ficou receoso em procurar um hospital e não ter a atenção devida”, diz.
Além disso, unidades de saúde também pararam de receber pacientes por falta de vagas. Foi o caso do Hospital 28 de Agosto, o maior pronto-socorro de Manaus, que desativou a triagem no dia 15 e deixou pacientes sem atendimento.

(Foto: Luzimar Bessa)