O que explica a parada cardíaca do filho de LeBron James durante treino?

Incidência anual desse tipo de evento é de 2 em cada 100 mil atletas de 14 a 25 anos, mostra estudo

EUA – Um jovem atleta, jogador de basquete, de 18 anos, repentinamente cai no chão durante um treino, vítima de uma parada cardíaca súbita. Foi o que aconteceu, na segunda-feira (24), com o jogador Bronny James, filho do superastro do Los Angeles Lakers, LeBron James.

(Foto: Reprodução / Instagra @bronny)

O quadro foi revertido imediatamente, e Bronny foi levado a um hospital, onde se recupera bem.

Um estudo de metanálise, publicado no ano passado no Journal of Athletic Training, avaliou a incidência de PCS (parada cardíaca súbita) e MCS (morte cardíaca súbita) em jovens atletas e membros militares com menos de 40 anos.

Foram observados dois grupos heterogêneos considerados de baixo risco de viés. O primeiro incluiu cinco estudos com dados de atletas de diferentes níveis e gêneros, revelando uma taxa de incidência de PCS de 0,98 caso por 100 mil atletas/ano.

O segundo grupo compreendeu três estudos com atletas competitivos de 14 a 25 anos, mostrando uma taxa de incidência de 1,91 por 100 mil atletas/ano para PCS.

Os resultados mostram que a incidência de PCS é relativamente baixa, mas ainda são necessárias mais pesquisas para melhor compreender o assunto, salientaram os autores.

A análise constatou ainda que a incidência mundial de morte cardíaca súbita é rara, sendo inferior a 2 por 100 mil atletas a cada ano.

O que pode causar uma parada cardíaca potencialmente fatal em um jovem atleta?

A parada cardíaca, como o próprio nome diz, é uma emergência médica em que o coração deixa de funcionar.

Ela pode ocorrer, por exemplo, durante um infarto agudo do miocárdio, que é quando uma artéria do coração é obstruída, impedindo ou dificultando a passagem de sangue.

Essa condição, todavia, costuma ocorrer em indivíduos mais velhos, que acumulam placas de gordura nos vasos sanguíneos (aterosclerose).

Em casos de jovens, o cardiologista americano Jahandar Saleh, da Dignity Health Northridge, ouvido pela emissora de TV KABC, de Los Angeles, disse que problemas de nascença costumam ser a causa da parada cardíaca.

“A maioria delas é congênita. Uma delas é a cardiomiopatia hipertrófica, em que o coração é mais espesso do que o normal”, afirmou.

“A cardiomiopatia hipertrófica é composta de um conjunto de doenças cardíacas em que as paredes dos ventrículos (as duas câmaras inferiores do coração) se tornam espessas (hipertrofia) e rígidas”, define o Manual MSD de Diagnóstico e Tratamento.

Segundo o guia médico, “as paredes espessas e rígidas dos ventrículos não relaxam de maneira adequada para permitir que as câmaras cardíacas se encham de sangue. Essa dificuldade se torna mais grave quando o coração bate aceleradamente (como durante atividades físicas), pois, nesse caso, há ainda muito menos tempo para o coração se encher. Por não se encher suficientemente, o coração bombeia menos sangue a cada batimento”.

Os sintomas dessa condição podem variar, mas geralmente aparecem em pessoas com idade entre 20 e 40 anos e incluem desmaio, dor no peito, falta de ar e palpitações, que ocorrem “primeiramente durante a prática de exercícios”, diz o manual.

A cardiomiopatia hipertrófica também pode ter sido a causa da morte do jogador da Loyola Marymount, Hank Gathers, aos 23 anos, durante uma partida em março de 1990.

Ele havia sido diagnosticado com batimentos cardíacos anormais meses antes, chegou a tomar remédios, mas queixou-se de que os medicamentos estavam reduzindo seu desempenho.

Houve, então, uma diminuição das doses, e os médicos suspeitam que ele tenha deixado de tomar a medicação em dias de jogos.

Outras causas de parada cardíaca e morte súbita de atletas jovens, segundo o Manual MSD, incluem:

• Doenças cardíacas presentes desde o nascimento: a síndrome do QT longo ou a síndrome de Brugada em atletas jovens causam ritmos cardíacos anormais e também podem levar à morte súbita;

• Cardiomiopatia dilatada: um aumento não detectado no tamanho do coração pode ocorrer em pessoas mais jovens sem sintomas aparentes, podendo levar à morte súbita durante ou após exercícios intensos;

• Inflamação do músculo cardíaco (miocardite): geralmente causada por infecções virais, pode levar ao aumento do coração e a ritmos cardíacos anormais, como a taquicardia ventricular, resultando em morte cardíaca súbita;

• Anormalidades nas artérias coronárias (doença arterial coronariana): especialmente quando uma artéria segue um caminho anormal dentro do músculo cardíaco, pode ocorrer compressão durante o exercício, interrompendo o fluxo sanguíneo e levando à morte súbita em atletas;

• Doenças hereditárias: alguns atletas jovens com condições hereditárias como a síndrome de Marfan podem desenvolver problemas na parede da aorta, causando laceração ou abaulamento que pode levar a hemorragia e morte súbita; e

• Arritmias súbitas após impacto: raramente, atletas jovens e magros podem apresentar arritmias súbitas após um golpe forte na região do coração (concussão cardíaca), mesmo sem terem doença cardíaca, sendo mais comum em esportes com projéteis em alta velocidade ou colisões.

Seja qual for a causa, pacientes em parada cardíaca precisam imediatamente receber a RCP (ressuscitação cardiopulmonar), um procedimento de emergência que combina compressões no peito e ventilação artificial para manter a circulação sanguínea e fornecer oxigênio a uma pessoa cujo coração parou de bater.

O uso de um desfibrilador pode ser ainda mais eficaz na reversão de uma parada cardíaca. O equipamento administra uma corrente elétrica controlada no coração que interrompe os ritmos anormais.

Trata-se de uma ferramenta essencial para aumentar as chances de sucesso na reanimação de pacientes em parada cardíaca.